sábado, 31 de dezembro de 2011

2012




Não espero muita coisa desse próximo ano.
Quero dizer, não muita coisa, relativamente.
A coisa que espero com veemência traz consigo algumas outras.

Espero respeito.
Pra com ele, poder me sentir digno, e honrado por existir como sou,
à minha maneira.

Respeito, a mim, significa poder amar quem eu quero,
sem ferir ninguém, e sem que seja preciso
quebrarem uma lâmpada na minha cabeça por isso.

Respeito significa não ser motivo de chacota no trabalho e na família
devido à minha orientação sexual, que condiciona minha existência plena.

Respeito é eu não precisar me refugiar em guetos, me isolar do mundo
pra me sentir mais confortável, menos esmagado pelos pré-conceitos.

Respeito é eu poder acariciar meu namorado em público,
de uma maneira afetuosa e inocente, sem que milhares
de olhares de asco se lancem a mim, ou sem que eu seja acusado
de estar cometendo atentado ao pudor.

Respeito é poderem perceber
que sou também ideológico, político, místico
e não apenas sexual.

Respeito é eu não precisar ser enforcado,
em algum lugar do oriente médio,
apenas por gostar de pênis.

Respeito é eu saber que tenho sim liberdade de expressão,
mas que minha liberdade termina
no mesmo ponto em que começa a liberdade do outro.

Respeito é os pais perceberem
que piadinhas homofóbicas feitas ao longo da infância
podem criar barreiras, e prejudicar psicologicamente
seus filhos, ao longo da vida.

Respeito é as igrejas não dizerem que sou antinatural,
e que vou arder no inferno, por gostar de beijar homens.

Isso é ser respeitado.
E espero pra 2012, 2013, 2014
que eu não precise mais implorar por respeito
e possa então partir pros outros itens
da minha lista de prioridades para o novo ano.




Feito Reféns




Desalinho de amor latente.
Avassala e dói.
Esfacela sem dó meu peito
a fio de navalha.
Conjurada é a paixão, dantesca.
O orgulho corrói.
Subjuga feito um lacaio
meu ser-migalha.

Amando-te.
Enlouquecidamente.
Inconsequentemente.
Assaz veloz e rente
seu peito ao meu.

E o ardor físico anestesia a sofreguidão.
E é mais difícil o passar do tempo, o dizer que não.
Gozamos juntos e o desespero foi mais que vão.

Eternos reféns por conveniência, de tudo isso.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Te Dedico!



Quero você agora.
Despido de todo o comedimento.
Quero você lá fora.
E dentro de mim a todo momento.

A cada toque.
A cada suspiro.
A cada cúmplice renúncia.

A cada afago.
A cada sorriso.
A cada abafada pronúncia
dos "eu te amo"s.

Que eu nunca me canse de me emocionar
com suas surpresas.
Que eu nunca deixe de valorizá-lo
por suas proezas.

E amassá-lo por isso.

Que minhas baladas só se finalizem
com os seus refrões descompassados.
Que os meus desejos só se amenizem
com seus abraços apertados.

E que sejas meu, dedicadamente.
Pois de ti já sou todo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Merry Xmas, Family!



Não sou um rebelde sem causa.
Menos ainda um militante irreflexivo.
Pelo contrário.
Minha revolta é o mais puro reflexo de como
algumas pessoas me tratam.

Não quero ser tratado cheio de cerimônia.
Cheio de dedos.

É fato. Se você é homoafetivo, muitos te tratam
como se você estivesse envolto por uma redoma de vidro.
E qualquer palavra mal dita a faz se romper.
E estilhaçar-se em pedaços mil.

Ninguém é preconceituoso.
Desde que não se toque no assunto.
Você pode sim, ser gay.
Desde que não demonstre.

Ora, que se danem todos!
Agora compreendo porque a maioria dos gays se sente melhor reclusa,
em guetos, longe da família.

Algumas pessoas simplesmente não entendem.
Nem se esforçam para tanto.
E hoje, meu ego é maior do que a vontade de ensiná-las.

Minhas tentativas findaram.

Às vezes, é difícil pra um pai entender um filho homoafetivo,
na mesma medida em que, às vezes, é muito difícil pra um filho
crescer sabendo que seu maior ídolo o desprezaria, se soubesse
quem ele realmente é.

Por isso, o diálogo é fundamental.
Alguns de meus familiares não primaram por ele,
e acabaram me causando muita dor.

Por exemplo, uma adorável tia
teve a brilhante idéia de dizer à minha mãe que não me incentivasse,
não entendesse a minha homossexualidade, não conversasse comigo, a respeito
de namoro, de sexo, de sentimentos, como tentativa de coibir meu "comportamento doentio"

Fico grato por mamãe não ter lhe dado ouvidos.

Foi essa mesma tia, que, com o apoio de seu escudeiro fidelissímo filho mais velho,
bisbilhotou nas minhas coisas até descobrir o meu segredo abominável.
Não obstante, contou tudo pra minha mãe, sem que eu soubesse
e acabou por praticamente me obrigar a contar tudo pro meu pai.

Já ouviram falar das Irmãs Cajazeiras?

Uma outra beldade da família quiz tentar me repreender
por eu conversar sobre meninos com uma prima mais nova.
Como se falar sobre beijo na boca com uma adolescente
fizesse de mim um pedófilo, pervertido, corruptor de menores.
Ha é, eu me esqueci. É que eu sou gay, né?

Sem falar nas inúmeras vezes em que trataram com desprezo
e dirigiram olhares de asco a meus amigos afeminados.

E se dirigem a mim cheios de flores e sorrisos.
Mundo hipócrita.

Chego a me questionar o real significado de quando me disseram que graças a
deus minha avó faleceu sem saber do meu problema. Será que falavam mesmo da depressão?

E ainda querem que eu me desculpe por ter sido grosseiro, ao falar deles, no meu
blog, numa postagem anterior.
Que ironia do destino, não? Espero que me peçam desculpas a um ano, também.

Sinto muito se não chegar a tempo de cortar o peru,
mas minha vida não é um comercial de margarina.

Feliz Natal a todos.

sábado, 26 de novembro de 2011

Once More



Mais um natal se aproxima.
Com as ruas apinhadas de luzes,
transbordando de enfeites.
Cores vivas e berrantes.

Só meu coração permanece ainda em branco e preto.

E penso que Noel não me trará, em seu trenó, meu tão esperado presente.
Você só pra mim.

Só me pergunto por quanto tempo mais.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Errata



Não quero mais olhar pra você.
Não quero mais poder te querer,
mas meus sentimentos me traem.

Não é que eu goste assim de sofrer.
Mas é só me encontrar com você,
que os temores todos se esvaem.

Entredentes, revelo-te todos aqueles meus segredos mais íntimos.
Mesmo que depois de tal feita perceba-te afastar-se de mim.

Entrementes, me puno por conter o orgulho e o amor-próprio tão ínfimos.
Contentando-me com sua proximidade, seus gestos de amizade sem fim.

Seria tão mais fácil se esse amor que sinto pudesse ser reformulado...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pirando !!!



Agora me comporto como um tremendo babaca,
passando vagarosamente em frente à sua porta
em busca de um vislumbre.
Um ruído.
Um olhar de soslaio por cima do muro.
Um aceno.

Até quando não me convencerei
de que o mais certo é que
nossa relação não passe disso?

Amizade por conveniência.

Convenhamos.
A paixão nos torna patéticos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

# # # # # !!!



E essa dor aguda que massacra meu peito?
E esse ódio tolo que sinto de mim mesmo?
Será que eu preciso te amar desse jeito?
Será que de outra forma viveria eu a esmo?

Sei bem que te contentas em me ter como amigo.
Sei bem que não sentes a mesma coisa por mim.
Não sei é se o amor que eu carrego comigo
suportará a angústia de te ter só assim.

Relancear seus olhares amistosos.
Seu sorriso patético.
E conseguir não desmoronar.

Não ceder às suas envolventes e atormentadoras provocações.

Não enlouquecer, com seu distante "talvez".

Tá bom.
Até parece que eu já não vi esse filme.

VERGONHA!!!



Senhoras e senhores!
Tirem as crianças da sala!
O gay comedor de criancinhas acabou de chegar.

Tirem as crianças da sala.
Da frente dos computadores
e dos televisores.

Melhor ainda.
Tirem as crianças da tomada.
Desligadas, correm menos risco de serem defloradas
por essas criaturas odiosas.

Bem, melhor eu maneirar no melodrama,
quando quizer parecer irônico.
Mas enfim, vamos esclarecer o dramalhão.

A questão é a seguinte:
É saudável conversar com uma garota de quinze anos, sobre namoricos?
Sobre beijos na boca, coisas normais de adolescente, que afloram na puberdade?

A resposta é não, se você for homoafetivo.
Se isso acontece, você passa, por exemplo, de um primo exemplar, que sempre foi admirado,
para um pedófilo promíscuo, que quer aliciar uma menor de idade.

Justo por falar sobre "ficantes".

Acho eu que a titia educadora faltou numa aula.
O medo que motivou suas atitudes é totalmente dispensável.
Não são necessárias cartilhas que ensinem alguém a ser gay.
Quando a pessoa é, ela é, simplesmente.
Não se trata de alguém que enfia isso na cabeça dela.

Mas quem sou eu pra questionar as atitudes de uma mãe.
Cada um cria seus filhos como achar conveniente.
Mas isso não significa que eu precise concordar, alheio.

Meu silêncio não se dá por comedimento.
Menos ainda por consternação.

É só mesmo por não querer mais jogar pérolas aos porcos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Viva a Jacotinha!



J á dizia o sábio, que

A migos são como pérolas, as

Q uais devemos dar

U m imenso valor.

E u encontrei minha pérola.

L inda, e deliciosamente encantadora, em sua

I mperfeição

N unca me cansarei de ser imperfeito, e errar com você, amiga.

E spero que ainda façamos muita besteira junto.



A ntes que eu me desse conta

M eu coração já estava entregue, então...

O nde quer que você esteja, pode saber



V ou te atormentar até em pensamento

O nde estiver.

C om toda certeza, lhe digo, você

E uma das poucas raxas que não me dão nojinho!

Kkkkk. Te amo, Jacotinha!!

Desconserto de amar-te



Se me lanças esse olhar de novo,
não respondo mais por mim.

Sua doce timidez me desconserta,
me desarmando do recato e da
livre consciência de meus atos.

Sua voz firme, e ternamente entregue
e seu sorriso largo
só me fazem ter a mais plena certeza
de que meu encontro contigo
foi providencial.

Desígnio divino.

A mim, reles mortal, me resta agora
fazer-te perceber-me de tal forma, também.

Pra entregar-mo-nos, juntos
a mais que um carinho de amigo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Sofreguidão



Que desatino imenso, amar-te insanamente assim.

Como se não me importasse em dispor meu coração a ti, pra que pudesses fatiá-lo em mil.

Sem nem mesmo ter a certeza de que correspondes a mim.

Sigo devotando-lhe o máximo do meu carinho, noites a fio.

Parece-me que me contento em tê-lo como amigo apenas.

Quando juntos a noite, até mesmo te apresento a outrem.

Mas sei que isso é, a mim, uma prova, de duras penas.

Se dependesse só do meu gosto, serias meu, de mais ninguém.

Antes eu ter morrido sem saber, dessa dor que desatina sem doer, do sábio Camões.

Por um fio



É tão estranho.
Se sentir ligeiramente contente, no limiar do quase.

Com medo de ousar demais, me deixo ficar.
Pra que o objeto do meu mais profundo desejo não escape entre os dedos.

Por um fio.

Por um fio não me atirei nos seus braços,
talvez pondo tudo a perder.

Ou talvez não.

Incerteza inquietante.
Acabando com meus neurônios
e pondo meu coração em prova.

Será que escaparei ileso?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O prazer de ser arteiro




Fabulosas firulas
a todos os fãs fervorosos da arte.

Mesmo que ela surja em frevos funestos.
Em festas de fino infortúnio.

Que a arte se faça fervilhar.
Naquilo que é visto.
Naquilo que é ouvido.
Tateado.
Lido.

Finamente contemplado.

Como frescas frutas florescidas
de frondosas féculas.

E que façam fenecer as infelicidades.
E fomentar a fé
em finais felizes.

E que consiga mesmo
não nos fazer enojar com os "efes".
Mesmo depois de tanto eco.

Finitas sejam então as frases aqui.

sábado, 29 de outubro de 2011

Dona Maria, seu papo chia!




V ó Linda já sabia, com certeza

O quanto essa Maria mudaria nossas vidas.

V iveu presenteando-nos, com a pura singeleza e

O amor incondicionalmente entregue, sem medida.



M eu coração se aperta, parte em dois

A o me lembrar que já não posso mais te ter aqui.

R elembro seus versinhos, seus bolinhos de arroz, e as

I das ao Gouveia, à padaria, aqui e ali.

A ndaria um milhão de quilômetros, se pudesse te ter de volta.



A ntes de deus levar-te pela mão

M e agradava muito surrupiar os farelos de bolo, que você guardava pro Tatavinho.

O nde quer que estejas, hoje sei.



V ai estar preparando polenta pros anjos.

O rando pelo nosso bem.

C om seu eterno popopó popopó.

E u queria era poder voltar no tempo e fazer “manina bela” com você de novo.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Amando!... ...piegas até não mais poder





Posso te contar um segredo?
Te amo!
Te amo muito, gatão!
Ouro que faltava nas minhas Minas Gerais.

Você é meu anjo sabia?

E tudo o que eu queria agora
era ter você aqui.
Poder te beijar, te tocar,
te fazer meu homem.

E que estivesse dentro de mim
de todas as formas que faltam
Porque do meu coração e de minh'alma
já tomastes conta.

Tô aqui, imaginando a gente
dormindo agarradinho.
Eu sentindo você respirar,
na minha nuca, enquanto dorme.
Graciosamente.

Queria poder tocar seu rosto agora.
Olhar seus olhos.
Penetrantes.
Intensos.
Entregues.
Marejados de emoção.

Contemplar seu sorriso travesso.
Sentir seu hálito quente, no meu queixo.

E que fosse possível eu dar-te um beijo
de tirar o fôlego, nesse instante.

Sentir a doçura dos seus lábios úmidos.
Seus pelos eriçados de desejo.
E nossos corpos respondendo, convulsivos
a cada toque.
A cada estocada.
A cada suspiro.

E não me arrependo da pieguice incontida de cada verso, aqui.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Regresso



Inspira-me, com o mais doce frescor do vento.
Que é o sopro de desejo que sái de seus lábios cálidos.
Me faz lembrar do esplêndido amor, de cada momento.
E o susto do olhar do reencontro, em seu rosto pálido.

Sim, amado.
Voltei a ti.
Voltei ao seu abraço aconchegante,
às crises de ira.

Emocionado, eu percebi
a falta que fazia seu beijo,
a queimar, em pira.

Lembro-me.
De quando nossos corpos, lânguidos
nada mais queriam que não fosse
entregarem-se ao gozo.

E de como sua pele fervia
ao meu toque mais sutil.

Agora podemos
sim! Bem mais que recordar.
Podemos repetir.
Nos entregar mais vezes mil.

Aproveitando-nos do momento.
Antes que meu breve regresso volte a tornar-se
despedida.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

LOOK INTO MY EYES



Olhar. Porta de entrada para a percepção do mundo de uma maneira ímpar: forma, tamanho, cor, comprimento. Mas, principalmente: sentimento. Num lampejo de olhar se revelam emoções escondidas, guardadas à chave, no mais obscuro recôndito da alma. Nesse aspecto, o olhar é traidor.
Como explicar aquela sensação entorpecente, aquele fritar de neurônios, aquela (desculpem a pieguice) agitação de borboletas no estomago que se seguem, após percebermos visualmente um olhar que chamou a atenção?
O resto do seu corpo consegue esconder, às vezes. Talvez se entregasse, ao sentir o toque do outrem. Talvez seu infame segredo fosse descortinado pelo tato, nessa situação. Mas do olhar, há! Desse você não escapa, em circunstância alguma.
E não são apenas o amor, o carinho, os ditos sentimentos puros, que podem ser revelados, em um olhar de esguelha. Quem nunca se enrubeceu (ou se enfureceu) ao perceber que está sendo literalmente secado por olhares de luxúria, de lascívia? É como se tudo o que há em você, que o diferencia das outras pessoas (geralmente, todo o seu melhor), estivesse sendo sugado por aquele canal visual. E é muito difícil não se deixar intimidar. Talvez não seja à toa que as variações de movimento do globo ocular também sejam levadas em conta, nos testes de detectores de mentiras.
E mesmo outras emoções podem ser reveladas, pela luz dos nossos olhos. Prova disso são as viradas de olhos, as piscadelas, os olhares de inveja, o olhar vítreo, dentre outras. Exatamente por isso, muitas expressões relacionadas ao tema ganharam fama, como: o olho que tudo vê, o olho do furacão, o olho do c... ...Bem. Vocês me entenderam.
Logo, podemos constatar que o olhar é, de certa forma, dantesco. Tanto pode nos ajudar quando precisamos, por exemplo, conquistar alguém (nos levando aos céus), quanto pode nos trair, nos revelando, nos momentos em que queremos parecer invisíveis (nos mostrando a face do mais impiedoso inferno). Basta a nós sabermos como usar dessa arma tão sedutora, e tão letal. E quando se deixar entregar a ela.

De volta para o futuro de deus sabe quando



Era 22 de abril de 1500. Não sabia exatamente como, mas, eu, Pedro, nascido em 1988, estava numa nau, de velas brancas com cruzes vermelhas.
A última lembrança da noite passada era a de que eu havia tomado muita tequila com meus amigos, e adormecera, ouvindo Rihanna no meu Ipod. Agora eu acordava, atordoado e com uma bruta ressaca, com o cheiro da maresia a invadir minhas narinas, e uns caras com uns chapéus esquisitos me rodeando, falando uma gíria engraçada.
- De onde surgiu este “gajo”? – dizia um.
- “Ora pois”, lá saberei eu? – o outro respondia.
- Olhe estas vestes! E este cabelo! Santa Guadalupe! Acha que os deuses do mar estão a nos mandar um demônio em forma de gente? – questionou o primeiro. - Dá cá o monóculo! Acho que estou a avistar algo a além-mar. - Vou consultar a bússola.
Eu, então, não contive o riso e falei: - Já ouviram falar em GPS?
- Terra à vista! – um certo xará gritou.
Como que num passe de mágica, atracamos em uma gigantesca ilha, de vegetação densa, muitas aves coloridas voando, assustadas e índios, muitos e muitos índios, com os arcos erguidos, olhando-nos, com cara de espanto.
Agora entendia. Eu estava mesmo vivendo o episódio do descobrimento do Brasil. Mas seria possível? Há, sim, seria sim. Aquelas formosas índias, com suas vergonhas lindíssimas de fora não poderiam ser devaneio.
- Ainda estás em minha vista? – disse um portuga – Não podeis ser um demônio então. Já que estás aqui, dá cá uma mão. Estabeleça contato com esses boçais.
E então me empurraram para fora da embarcação. Me assustei quando senti a areia fina e fria em meus pés. E me lembrei de George, meu amigo retardado jogando meus chinelos por cima do muro, na casa do vizinho, na noite anterior. Porém, a flecha apontada pra minha testa me assustou mais.
Eu não sabia o que fazer. Se aquilo fosse um sonho, que eu despertasse logo. Com a morte me espreitando, e o coração a saltar pela boca, eu observava aqueles nativos.
Quantas pessoas não gostariam de estar ali, contemplando aquele momento? Ver a selva de pedra substituída por uma mata praticamente virgem, uma flora intocada. O ar fresco e respirável substituindo as nuvens de poluição da cidade. Não fosse o perigo iminente da morte, não sei bem se quereria mesmo acordar, ou sair dali.
De repente, meus pensamentos foram interrompidos, quando o índio ameaçador puxou meu braço, bradando:
- Recuso-me! Recuso-me!
Recusa-se a que? – pensei – A estabelecer um contato amistoso comigo? A gastar uma flecha boa, pra ter no café da manhã a carne sem graça de um branquelo sem sal? Peraí. Um índio falando português?
E então tudo sumiu. Por um atmo de segundo achei ter sido engolido por um buraco negro. Até que despertei assustados, com os mesmos solavancos no braço. Mas agora, não era um índio que gritava:
- Escusa-me! Escusa-me!
Um italiano, muito bem vestido, me acordava. Eu estava deitado num gramado frondoso, avistando a Torre de Pisa, com a minha companheira fiel, não me deixando esquecer que o que eu vivia não podia ser real – a infeliz ressaca da maldita tequila.
- José Cuervos dos infernos – sussurei, jurando a mim mesmo que nunca mais beberia tequila na vida.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Homenagem



Ketlen é uma amiga muito especial.
Com seus vinte e poucos anos
(três, se não muito me engano),
seus cabelos negros como o breu,
e seus olhos castanhos,
conquistou meu coração.

Ela é baixa, de uma altura compacta.
É fofinha, e tem um sorriso lindo,
de uma forma luminosa.

É teimosa como uma porta.
Orgulhosa como um pavão.
E impetuosa.
Não compre uma briga com ela,
se pretende ter filhos um dia.

Mas o que mais me marca, em relação a ela
é sua total entrega.
Ela sempre está ali, quando preciso.
Totalmente prestativa.

Seja pra me dar a mão em uma emergência de trabalho,
ou chorar comigo, quando sofro de alguma desventura amorosa.
E olha que são várias.

E como ela corre!
Corre pra conseguir criar o filho.
Corre pra conseguir seguir com a vida.
Corre com seu amigo maluco,
por uma lombada eletrônica,
em uma infame tentativa de contornar
a dor de uma perda.

E eu que achava que aquele marcador sairia mesmo do zero.

Amo-a, simplesmente.
Apenas por existir.

domingo, 4 de setembro de 2011

Nostálgico


Impreciso.
Impreciso e aluado coração.
Que anseia por esquecê-lo, mas não consegue.

Expressiva.
Expressiva e exacerbada a emoção.
Quando me vem as lembranças, do mundo que tu trouxestes

Que tu trouxestes contigo.

Pra acalentar o meu colo,
e fervilhar meu desejo.
Fazer-me esquecer do prumo
e ultrapassar o gracejo.
Intensos lábios febris
se entregando, num beijo.

Ha!
Quisera eu poder esquecer-te assim
como se esquece de uma valsa de pouca fama.

Embotarei então meu coração
num desafogo solitário.
Até que meu amor por ti mofe.


Sozinha



Emerenciana agora estava ali,
sentada à mesa de seu escritório,
bebericando o peso das palavras mortas,
juntas ao café amaríssimo.

Jocasta se fora,
levada por um furacão do Norte da América,
em sua viagem sem fim.

Emerenciana jamais imaginaria que sua finitude estivesse tão próxima.

- Rosas ou madressilvas? - Jocasta perguntava, em meio a carinhos - Que flores enfeitarão nosso quarto de núpcias?
- Jocasta - Eme dizia, em pensamento, e em tempo real - Jocasta será a flor de meus sonhos.

Eternamente.

Pedro e a pedra



Era Pedro um pescador.
Estava ele à beira do Rio Guaíba
pescando peixe piranha
pra desafogar preocupação.

Há cerca de vinte dias está fugido.
Com a polícia de Itariti em seus calcanhares.
O último refúgio acolhedor fôra a fazenda
da tia de 3° grau. Nha Laureta.

Mas os perigos das rondas policiais
o fizeram retomar as andanças.

Agora ele habitava uma caverna antiga,
morada de raposas do campo,
que Pedro já emboscara e degolara,
pra saciar a fome.

Todos esses reveses por conta de uma infeliz atitude.
Estar apaixonado pelo filho do juiz.

Em suas reflexões, Pedro interloutava consigo mesmo,
ou com a lua, ou com uma pedra:

- Estou a cometer um crime?

E a pedra não respondia.

E Pedro permanecia ali.

Pedro e a pedra.
Fugindo do mundo, por não lhe deixarem viver.

Mudando a ordem dos fatores



Sou brasileiro, de estatura mediana.
Gosto muito de Joana, mas Joelma é quem me quer.

Noites e noites a fio, passei à espreita,
cantando, ao primeiro sinal de movimento,
com o acompanhamento do violão,
à Janela de Joana.

Mas ela nem me dava bola.
Era Joelma quem ralhava comigo, no outro dia de manhã.

É certo que Joelma também é graciosa.
Tem seus lábios fartos,
a pele de um tom moreno, quase âmbar,
e era bem sapeca na cama.

Sim, já transei com Joelma.
Mas foi com Joana que fiz amor.

Pena que as duas tenham trocado a ordem dos fatores
em seu jeito de sentir.


Desabafo de um florista



Meu Deus!
Que tempo é esse em que falar de flores é quase um crime?
Se entro em um bar e começo a falar de begônias e cravos,
ao invés de me gabar do mais novo software,
ou questionar sobre ações da bolsa e futebol,
sou quase expulso!

Mas não me envergonho de ser florista.
E nem de ser avesso às tecnologias.
Sei que, quando eu morrer,
não serão as micro-telas de ledge
que enfeitarão meu túmulo.
E sim, as rosas.

Meu namorado Bento que não me ouça, mas
com elas, até amenizo o odor de seus pés descalços,
quando chega do treino diário.

- Como estão as orquídeas hoje, Nicolau? - me perguntam.
Respondo:
- Estão lindas! Cuido delas como se fossem filhas minhas!

No que depender de mim, tudo são flores, com certeza.

sábado, 3 de setembro de 2011

João Brasileiro



João Brasileiro já não sabe até quando mais suportará.
Olhando os transeuntes, percebe nitidamente as sutis diferenças
entre as pessoas.

Um piercing aqui, um cabelo pintado acolá.
Tatuagens de rena, tranças de raiz,
cabelo chanel.

Mas a principal diferença não se percebe
ao lampejo do olhar.
As nuances da alma.

João Brasileiro se enerva, ao se obrigar a
esconder-se de si mesmo.

Com dois filhos pra criar,
uma esposa que não ama
e um desejo compulsivo,
que o faz sentir algo,
como se despejassem despejassem alvejante em suas artérias.

João Brasileiro não sabe mais
se conseguirá refrear seus impulsos

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

... até quando?



A tempos Samuel vive a mesma rotina, aos domingos.
Acorda às nove da manhã, nos dias de sol escaldante,
chama mulher e filhos, e segue junto com eles
até a praia de pipa.

Meia hora mais tarde, Samuel já podia observar
a água salgada invadindo a praia semi-virgem,
os primeiros sinais de companhia humana arrastando-se,
e estendendo suas toalhas carcumidas, a alguns metros do quiosque.

Ha! O quiosque!
O quiosque que alimentava o seu sonhar!

Atrás do balcão de madeira,
ocupado com as águas-de-coco e os camarões,
estava ele.

A força que alimentava o desejo proibido de Samuel.
Leopoldo.

Enquanto o domingo arrolava,
as crianças se debatendo, numa disputa de castelos de areia,
a esposa, nervosa, ao notar que esqueceu o protetor,
Samuel se deleitava, com a imagem perfeita de Léo.

Sem saber até quando mais sua volúpia conseguiria
não interferir em suas ações

Surpresa



Era um dia de muito sol.
Pessoas amontoavam-se na praça,
querendo saber que confusão era aquela,
no meio do comício do Senador Firmino.

Não muito longe, podia-se perceber
um fusca, modelo 72, meio que ensandecido.
ziguezagueando e abrindo caminho por entre a multidão.

Só quando adentrou no centro da praça
é que as pessoas puderam ver.
Um homem, uma mulher e uma criança,
a bordo do pequeno veículo.

O motorista parecia furiso, e,
despercebido, foi de encontro a um poste
que, com o impacto, caiu, e quase esmagou o pé de amoras.
Porém, a banca do seu Serafim foi rasgada ao meio.

Enquanto policiais tentavam conter a confusão,
as pessoas saíram do carro.
Um homem desconsolado.
Uma mulher desconcertada.
E uma criança correndo, na direção do senador, gritando:

- Papai! Papai!
- Aqui está - disse o homem do fusca - Apresento-lhe o bastardo.

A graça da lembrança e a dor da espera



Frederico não suportava mais a distância de Clarisse.
A bela dama deixara um retrato esplêndido,
e se fora,
entusiasmada com a idéia de dar a volta ao mundo num veleiro,
com seu irmão pesquisador.

Frederico não sabia mais como viver sem seu amor proibido.
Até mesmo sua esposa, Catarina, percebera sua mudança.

- Porque ostentas esse olhar tão vago, meu amor? - ela questionava.
- O que disse, mulher? - respondia ele, despertando de sua viagem nas lembranças.
- Você. Parece-me a dias estar com a cabeça no mundo da lua.

Não, no mundo da lua. Sim, no mundo de Clarisse.

Donatela, irmã e cúmplice de Frederico, e delicada feito um dragão de Komodo, dizia-lhe:

- Firma-te homem! Não vais perder a vida por conta de um rabo de saia!

Mas não era um rabo de saia. Era o rabo de Clarisse. Ele, e todo o resto de sua miragem.
Que inundavam o peito de Fred.
Com a graça da lembrança e com a dor da espera.

Consideração do Poema *



Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convém.

As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre, por vezes, desenho.
São puras, largas, autênticas, indevassáveis.



*Poema de Carlos Drummond de Andrade

Marketing in Neverland!



Oi! Eu sou Peter Pan!
E aqui na Terra do Nunca, ninguém vive sem
o pó de pirlimpimpim.
Com ele, você pode viajar de um mundo a outro,
como que num passe de mágica!

Uma salpicada e...
VRUUUM!
Vai-se do Japão ao Egito.
Sem se preocupar com detectores de metais.

Não é perfeito?

Adquira já o seu frasco!
E viva tranquilamente.
Sem medo de que uma menina louca feito Wenddy
corra atràs de ti pra lhe roubar beijocas.

Apenas uma dose e...
PLIM!
Você sumiu!

Nem mesmo Capitão Gancho lhe alcançará!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Achado antigo feito pra um antigo amor



Oi, amor...
Tô passando só pra dizer que penso em você o tempo todo, aqui.
Tô bem longe, com muitas pessoas diferentes me rodeando, e num lugar totalmente estranho.
Mas é como se o mundo inteiro inexistisse, sem você comigo.
Queria muito mesmo, que o mundo inteiro inexistisse, e sobrássemos apenas eu e você..
pra reconstruirmos o mundo com o nosso amor inabalável.

Sei que todo esse tempo, todo esse sacrifício... vai ser a oferenda mais linda...
ofertada aos deuses mais nobres, pra sacramentar o nosso amor.

Quero que saibas q te amo, e sempre te amarei
Serás sempre o meu lindo!!!

Camisa de força



Porque é que me voltas agora?
Porque é que depois de conseguir permanecer tão forte,
De uma forma tão sólida e inabalável,
Minha alma se entrega a você de novo?

Sei que não vales um puto furado.
Seus olhares de soslaio não me enganam mais.
Mas porque é que logo agora, me desconcertam de novo?

E esse desejo estúpido, de onde foi que eu tirei?
Sinto vontade de rir de mim mesmo.
Sei muito bem nem mesmo combinamos na cama.

Mas porque teimo?
Que droga!
Agora me vem de novo aquela antiga vontade de tentar?
Ou aquela esperança ridícula de que tenhas mudado.
Será?

Acho que não.

Acho que é só tesão.

E carência.

E TESÃO+CARÊNCIA=LOUCURA.

Alguém aí me empresta uma camisa-de-força?

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pausa



Já não sinto mais meu respirar.
Apenas meu pulso convulsivo,
e o desejo fremitante,
que de mim tomam conta.

Mesmo que eu tente, não posso apagar.
O toque docemente rude da tua pele
e a consistência dos teus lábios
deixam minh'alma tonta.

Num atmo
relembro nossos corpos.
Envoltos.
Febris.
Num ritmo sincronizado e excitante.

E um sol de domingo como testemunha do nosso beijo.

Bem, ele e as outras milhares de pessoas ao nosso redor.

Era 14 de agosto de 2011.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ahh!



Permita-me.
Estou chegando de uma viagem.
De uma longa e prazerosa viagem
por um mundo novo.

O mais recentemente descoberto paraíso
para o descanso da alma.
Seus olhos.

Perdi-me neles de tal forma que
todo o resto do mundo saiu de foco.

Como se...

Como se antes todo o meu corpo ardesse,
lambido por chamas, em carne viva.
E você chegasse, me agraciando
com o mais delicioso frescor.

Como numa propaganda de Colynos.
Como se a utopia do mais fremitante gozo
fosse a carne tenra dos seus lábios.

E o frescor do seu hálito.

Se bem que, arder com você não seria tão má idéia.

Deus meu, mande-me de volta ao torpor!

Permissivo



Somente agora, permiti-me a amar você.
A sentir o toque surdo do seu corpo no meu
e não pensar apenas em sexo.

Depois de todas as noites a fio,
de torpor e prazer,
veio-me, enfim a sensação
de que só em ti me sinto completo.

Não em qualquer outro homem.

Deixei, enfim, que as insistentes borboletas invadissem meu estômago.
Juntas com todos os seus primos alados
a fazer cócegas em minh'alma.

Cócegas em minh'alma?

É. Estou realmente apaixonado.

Chamem mais que depressa o algoz.

A palavra*



Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.

Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.

*Poema de Drummond

Desafogo



Dia bom.
Dia novo.
Dia claro, pra variar.

Dia de mil expectativas.
Dia de mudanças.
Dia de dança.

Dia de bailar com o incerto
ao toque oscilante das possibilidades
no salão do destino.

Dia fortuito.
Dia certo.
Dia gratuito.

Dia de sair pela rua cantarolando melodias francesas.
Sem se preocupar com a continuidade.
Ou com o ritmo.

Dia de se doar.
Dia de se entregar.
Se permitir.
Titubear.
Deixar fluir.

Dia do desafogo.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

:-D



Impulsionado pela expectativa do novo.
Agraciado pela intensidade do belo.

Um novo amor, ressurgindo.
Recém descoberto.
Minando do mais límpido refúgio da alma.

O amor a mim.

Florescendo.
Como a gula de uma criança por uma vitrine de doces.
Exaurindo qualquer forma de tristeza.
Se entregando à patetices.

Esse amor, cálido e puro
descobre-se em mim
e projeta-se a outro.
A outros.
A todos.

A todos que se permitem amar.

Que esse amor venha em forma de flores.
Em forma de sonhos.
Em forma de risos.

E que nunca mais acabe.

No que depender de mim, jamais morrerei de desamor.

Olá, enfermeira!



É INEGÁVEL A EMOÇÃO.
DEIXEMO-NOS INVADIR POR ESSE SENTIMENTO DE VITÓRIA, QUE IRRADIA DE NOSSA AMADA FORMANDA ANA PAULA.
DESDE JÁ, AGRADEÇO A TODOS OS CONVIDADOS, AMIGOS E PARENTES QUE VIERAM RESTIGIÁ-LA. SABOREAR, COM ELA, A DELICIOSA SENSAÇÃO DE DEVER CUMPRIDO, DE DESAFIO ULTRAPASSADO, VENCIDO.
MENOS A SENSAÇÃO DE UM ABRAÇO DE DESPEDIDA. MAIS A SENSAÇÃO DE FASE VENCIDA NO SUPER MARIO BROS.
E, PORQUE NÃO, UM JOGO? NESSES QUATRO ANOS DE INTENSA DEDICAÇÃO, TRABALHO E AFINCO, MOSTROU-SE COMPLETAMENTE CAPAZ DE VENCER DIVERSAS BATALHAS, E SOMAR PONTOS, ACUMULANDO ENERGIA PARA LIDAR COM A ÁRDUA, PORÉM AGRACIADA PROFISSÃO, QUE É SER ENFERMEIRA.
TUDO BEM QUE, NO INÍCIO DO JOGO, OS MONSTROS ERAM PEQUENOS: O MEDO DE APLICAR UMA INJEÇÃO ERRADA, O HUMOR DAQUELA “AMANTÍSSIMA” SUPERVISORA DE ESTÁGIO, OU AQUELE PROFESSOR X, QUE PARECIA TER MARCADO O SEU ROSTO.
COM O TEMPO, OS MONSTROS FORAM CRESCENDO, E, CONCOMITANTEMENTE, A SUA CAPACIDADE DE VENCÊ-LOS.
SUA FORÇA DE VONTADE É LINDA.
O OTIMISMO E A JOVIALIDADE DE ESPÍRITO IRRADIAM DE VOCÊ.
VOCÊ APENAS FARÁ PACIENTES FELIZES, PESSOAS FELIZES, MESMO QUE COMETA UM PEQUENO DESLIZE, AO LIDAR COM UMA SONDA, EM UM SENHOR DE IDADE.
BRINCADEIRAS À PARTE, DESEJO A VOCÊ, MINHA IRMÃ, TODA A SORTE E FELICIDADE DO MUNDO. O QUE NÃO SERÁ PEDIR MUITO, JÁ QUE ESCOLHEU A PROFISSÃO QUE AMA.
MUITO OBRIGADO POR NUNCA DEIXAR DE SER MINHA ‘IRMÃZONA’. MESMO COM TODA A CORRERIA, E A VIDA ATRIBULADA.
MUITO OBRIGADO POR TENTAR ENDIREITAR ESSES CAMINHOS MEIO TORTOS, DIGAMOS, AO MENOS AOS OLHOS DE UNS E OUTROS, QUE SEU IRMÃOZINHO PIVETE TOMOU PRA SI.
DANE-SE! NÓS SEMPRE ACHAMOS AS CURVAS E OS ‘PONHONHOINS’ DA VIDA MAIS EXCITANTES MESMO...
...SE JOGA NA FELICIDADE, E VAI ABRAÇAR O MUNDO, IRMÃ! AMO VC!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Como se ainda me surpreendesse



É hoje que minha malditas úlceras fritam com meu estômago.
Com esse ódio corrosivo que insiste em lamber minha pele.
E os pesadelos mais tenebrosos, a mim, bem parecem um sonho.
Comparados com teu agir. Teus atos só me repelem.

Afastam-me completamente.
De qualquer tentativa de reconciliação.
De entendimento.
De pacificação.
De qualquer mínimo e remoto sinal de trégua.
Bandeira branca.
Ou desertar.

Apenas reconsiderando:

Eu só sirvo pra lhe passar vergonha, não é mesmo?
Ou pra sair a rua ofertando minha mãe ao mais fétido vira-latas?
Ou pra roubar! Essa agora é nova!

Sim, pois há de se considerar
que eu não deva mesmo ser capaz
de estimular minha massa cinzenta
a ponto de fazer-me poupar dinheiro.

Já que "escolhi" o odioso "comportamento" de ser gay
o resto todo apodrece.
Não é bem assim que pensas?

Não estranharei se daqui a alguns dias
começares a falar
que participo de funestas experiências
com a vida extra-terrestre.

terça-feira, 26 de julho de 2011

сновидение (Sonho Bom)



Sentir seu pulso vibrante.
Seu rosto, tão belo
e sua tez cintilante.
Me faz tão bem!

Mesmo que no vislumbrar de um sonho.

Não me permito, então acordar.

Prenda-me aqui, em seu eterno beijo.

Minha maldita bexiga que não ouse despertar-me tão cedo!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Libertos



Queria poder me lembrar, com exatidão
de todas as palavras proferidas, nos momentos de tensão.
Pra poder me desculpar, do fundo de minh’alma
por todo o mal que lhe causei.

Que toda a beleza que há no mundo
Seja capaz de guiar-te, ao caminho do perdão.

Todos os erros que cometi começaram de um instinto obcessivo de proteção.


Proteger-te do mal das palavras alheias.
Proteger-te dos olhares de asco, das críticas odiosas, do caos.

Privar-te de toda a incompreensão, causada por todos aqueles que não sabem compreender a plenitude do belo.

A plenitude do mais cálido e fervoroso amor.
E da mais inebriante entrega.

E daí se esse amor é compartilhado por dois homens?
E daí, se seremos felizes para sempre, marido, e marido?
E daí, se seus pais nos flagraram em meio a uma casta manifestação de carinho?
A verdade tinha mesmo que ser dita, de uma forma ou de outra.

Estamos, enfim, libertos.
Vivamos, então, nosso conto de príncipes.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O mundo das emoções descartáveis



Não importa qual seja a verdade.
As pessoas só vêem o que querem ver.
Não sei exatamente onde li isso,
Mas é a mais pura verdade.

Suas palavras são distorcidas num atmo.
E crises de ódio e violência
São desenterradas não se sabe de onde.

Parece-me que as pessoas hoje se irritam com muita facilidade.
Não se acostumam com a calma.
Nem com o silêncio.
Menos ainda com a espera.

A resposta mais conveniente a seu ego doentio é que mais vale.

Palmas!
Ao mundo das emoções descartáveis.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Tsc tsc...



O "ócio criativo"!

(risos)

Quem foi o imbecil que disse que existe isso?

(mais risos)

Só pelo fato de se criar, não pode ser ócio.
Há de ser criação!
E criação das mais criativas!
Sem medo de "pleonasmear".
E dando-se aos neologismos...

...CATAPRICKT!

Que se dane o... (esqueci o nome do bem/mal dito autor)

FURECKT! (Apenas um neologismo criado)



Um pedaço de papel amassado
significa um poema que acabo de perder.

Droga!
Seria tão belo!
Se não houvesse deixado de ser.

De existir.

Sem rimas.
Nem paráfrases.
Nem quintetos.
Nem tercetos.
Nem versos decassílabos.
Nem a droga do etc. e tal.

Seria perfeito.
Se não fosse apenas
um pedaço de papel amassado.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A carta (Final)



Eu já ficaria irritado com você se o Caleb fosse alguém com o qual eu estivesse me envolvendo afetivamente, um namorado, ou ficante. Você estaria sendo preconceituoso da mesma maneira. Mas embora, eu repito, não te interesse, o Caleb é meu amigo, apenas, da época do colégio. Um excelente amigo aliás, que após voltar a morar na cidade, compreendeu perfeitamente a minha orientação sexual, e não se sentiu constrangido em continuar a sair comigo, a me tratar da mesma forma, embora muitas pessoas, inclusive você pensassem algo diferente da nossa amizade. Quero que você saiba que eu contei da sua conversa com Caterine pra ele. E ele realmente se sentiu sem graça, de tão HUMILDE que ele é. Mas não menos magoado com a atitude falsa que você teve para com ele, fingindo o tratar bem e normalmente, enquanto questionava sobre a vida dele pra outras pessoas.
Peço, encarecidamente para que você não tente conversar sobre essa carta comigo, porque não surtirá efeito algum. O que está feito está feito, e nada do que você me diga ou faça irá mudar o sentimento que me levou a escrever isso. Muito menos tente conversar com Caterine a respeito disso. Ela coitada, me contou isso na inocência, como se não significasse nada. Ela realmente acreditava que você estava preocupado comigo. Como se eu tivesse 5 anos de idade, não é? Ou como se você já não conhecesse Caleb de antes, né? Ele te vendeu um celular de segunda mão, lembra? Deixa eu ver se eu adivinho: na época você pensou: “ha, esse malandro suburbano que anda com meu filho deve descolar um celular baratinho pra mim, porque ele deve mexer com coisas ilícitas, e é mais fácil pra ele conseguir coisas mais em conta.” Como se existisse elite em Happy Mountain. Pra te vender um celular barato ele serve, mas pra ser amigo do seu filho, não? Caterine achou desnecessária e engraçada a sua “preocupação”, visto que ela também conhece Caleb muito bem, talvez pelo fato de ela já ter namorado com ele na época da escola, e por ele ser completamente heterossexual. Mas você deve ter pensado: “se o meu filho que é meu filho virou gay, porque não esse cara...?”


PS: eu percebi a forma ridícula como o idiota do seu amigo Cielo olhava pra mim enquanto eu conversava com o Caleb ontem, antes de você chegar. Sei também que ele alimentava várias fofocas e espalhava mentiras pra você, com a ajuda do enteado dele, na época em que eu namorava o Woodolf Jr. Se ele realmente for seu amigo, peça pra ele cuidar da própria vida.
Não é porque eu sou homoafetivo que todas as pessoas próximas de mim também são. O fato de eu ser gay, não faz de mim um promíscuo, como você pensa, achando que eu to transando com todos os caras que se aproximam de mim. O fato de eu estar com um gay no meu quarto, à luz do dia, enquanto ele, de bom grado, como um favor mesmo, tenta consertar uma cagada que eu fiz no computador, não quer dizer que nós não possamos ser apenas amigos. Francamente, se eu quizesse ficas com o Virtienzo você acha que eu seria idiota de fazer isso de dia, com a porta aberta, no meu horário de almoço? É ofensivo à minha capacidade intelectual! Eu não penso isso de você de graça. Penso pelas suas atitudes comigo. E com minha mãe. E essa carta não é um desabafo só meu. De certa forma, é dela também.
Pai, (se é que essa palavra ainda tem algum significado pra mim). Não adianta. Não adianta você mudar de canal quando passam cenas gays na novela. Não adianta você desligar o noticiário quando há notícia de que algum direito dos homossexuais foi finalmente conseguido, depois de muita luta. NADA MUDA O FATO DE QUE SEU FILHO É HOMOAFETIVO. E a partir de hoje, quem vai sofrer com essa intolerância será apenas você, se ela persistir.

Fico muito grato se você realmente tiver conseguido ler isso até o fim.

:’(


Pai.
A pouco tempo atrás, essas três letras, a mim, teriam muito significado.
Como naquelas vezes em que pensamos numa palavra, e vem logo uma imagem à mente.

Um sinônimo de respeito.
De exemplo a ser seguido.
O mais nítido e confiável dos espelhos.

É realmente uma pena.
Na verdade, é revoltante de uma maneira muito triste.
Que eu venha pouco a pouco perdendo esse referencial.

A mesma figura que, quando eu menino, me fez aprender que cada ser humano é um mundo.
Hoje age como se o mundo fosse ele mesmo.
Isolado.
Ensimesmado.
Alienadamente tomado por uma revolta
que o faz perder o amor do filho.
Gradativamente.

Não era esse cara que brigava comigo todas as vezes em que eu era injusto com a minha irmã, de uma maneira machista, como se eu pudesse mais do que ela, apenas por ser homem?
Não era ele que me deixava horas a fio de castigo quando eu agia de maneira preconceituosa com outrem?
Ou quando eu não tinha espírito esportivo
e me enervava apenas por perder uma partida de pula-macaco?

Onde está esse cara?

Cadê ele?

Cadê esse pai?

Não o sei.

E em virtude disso tudo, é difícil fazer com que minha cabeça não sofra um tilte.
Tamanha é a minha sensação de desagrado.

Como posso aceitar que sua discordância em relação à minha condição sexual, seja engrenagem pra tanta insanidade?
Tanta violência! Tanta agressão!
E até mesmo minha mãe se vê atingida.
É só por ela que suporto o olhar de nojo que aquele cara dirige a mim todas as manhãs.
Ele que não ouse botar às mãos nela novamente.
Senão não respondo por mim.

Preconceito sozinho já é detestável.
Preconceito aliado ao machismo, então, nossa!
É uma receita letal.

E o sujeito que constará na certidão de óbito, adivinhem quem será?
Vamos, façam suas apostas!
Não façam vista! Não se acanhem!

O amor.
O amor que fez um homem se apaixonar por uma mulher.
O mesmo que fez com que os dois juntos, planejassem gerar outra vida.
Amor antes incondicional,
agora condicionado.

É esse amor, que, aos poucos, se faz minguar cada vez mais.

E seria bom que outras pessoas, muito próximas, não agissem como um dois de paus.

...

A carta (Parte III)



Se eu resolver sair daqui, minha mãe sái junto. E eu realmente tenho muita pena dela, porque ela vive em uma situação de total tensão, porque, infelizmente, ela ainda ama você. Mas sei também que falta uma linha bem fina pra arrebentar, pra que esse amor finde de uma vez. Será que é porque você disse que eu só sirvo pra te envergonhar? Ou será que é porque você disse que ela acoberta as “coisas erradas” que eu faço? Acho que não. Acho que a gota d’água foi quando você disse que, se dependesse de mim, ela já teria “dado” pra outro cara a muito tempo. Como se eu cafetinasse a minha própria mãe. Engraçado. Na verdade, isso foi mesmo circunstancial, praticamente planejado pelos deuses. Você fez essa infeliz observação justo um dia depois de eu defender minha mãe de um bêbado idiota que queria dar em cima dela, mas ela estava com medo, porque além de idiota, esse cara é um criminoso, ex-detento, perigoso e traficante de drogas. Ela achou a minha atitude um ato incondicional de amor de um filho para com sua mãe. Até mesmo a Naomi, que estava conosco, e viu a cena, achou muito honrada a minha atitude, e inclusive engraçada, porque eu saí praticamente correndo atrás da minha mãe, pra defendê-la, enquanto o babaca em questão começava a querer se aproximar dela, bêbado. Ela disse que eu parecia um filhote de leão com ciúmes e querendo defender a mãe. Pra você chegar no outro dia e falar uma barbaridade daquelas? É realmente pra minguar com qualquer tipo de amor mesmo.
Continuando, se eu sair daqui, minha mãe sái junto. Aí sim, vai ser a sua ruína PESSOAL, FINANCEIRA E AFETIVA. Entenda como queira. Embora você diga que é o macho-alfa da casa, que você manda, que só você pode aqui, que “a porta da rua é serventia da casa”, você sabe que você é muito menos sem mim, ao menos nos últimos 5 anos, e principalmente, você sabe que não é, nem nunca foi NADA, DEFINITIVAMENTE NADA, sem a ajuda da minha mãe. Então, a partir de hoje, meça milimetricamente seus atos.
O que seria o terceiro motivo pra eu continuar aqui, a mim, já não tem mais tanta importância. Na verdade nenhuma. Eu esperava que com o tempo, e com a volta da sua convivência comigo, você me compreendesse. Realmente, é esperar demais de você. E isso vai muito além de fingir que as coisas não estão acontecendo. Eu não preciso ser aceito por você nem por ninguém. O princípio da aceitação parte do pressuposto de que já existe um grupo superior, com mais direitos e mais razão, que deve se apiedar e aceitar outras pessoas. Não preciso e não quero ser aceito. Quero ser compreendido enquanto ser social, econômico, político, místico, ideológico, e porque não, sexual.