quinta-feira, 8 de setembro de 2011

De volta para o futuro de deus sabe quando



Era 22 de abril de 1500. Não sabia exatamente como, mas, eu, Pedro, nascido em 1988, estava numa nau, de velas brancas com cruzes vermelhas.
A última lembrança da noite passada era a de que eu havia tomado muita tequila com meus amigos, e adormecera, ouvindo Rihanna no meu Ipod. Agora eu acordava, atordoado e com uma bruta ressaca, com o cheiro da maresia a invadir minhas narinas, e uns caras com uns chapéus esquisitos me rodeando, falando uma gíria engraçada.
- De onde surgiu este “gajo”? – dizia um.
- “Ora pois”, lá saberei eu? – o outro respondia.
- Olhe estas vestes! E este cabelo! Santa Guadalupe! Acha que os deuses do mar estão a nos mandar um demônio em forma de gente? – questionou o primeiro. - Dá cá o monóculo! Acho que estou a avistar algo a além-mar. - Vou consultar a bússola.
Eu, então, não contive o riso e falei: - Já ouviram falar em GPS?
- Terra à vista! – um certo xará gritou.
Como que num passe de mágica, atracamos em uma gigantesca ilha, de vegetação densa, muitas aves coloridas voando, assustadas e índios, muitos e muitos índios, com os arcos erguidos, olhando-nos, com cara de espanto.
Agora entendia. Eu estava mesmo vivendo o episódio do descobrimento do Brasil. Mas seria possível? Há, sim, seria sim. Aquelas formosas índias, com suas vergonhas lindíssimas de fora não poderiam ser devaneio.
- Ainda estás em minha vista? – disse um portuga – Não podeis ser um demônio então. Já que estás aqui, dá cá uma mão. Estabeleça contato com esses boçais.
E então me empurraram para fora da embarcação. Me assustei quando senti a areia fina e fria em meus pés. E me lembrei de George, meu amigo retardado jogando meus chinelos por cima do muro, na casa do vizinho, na noite anterior. Porém, a flecha apontada pra minha testa me assustou mais.
Eu não sabia o que fazer. Se aquilo fosse um sonho, que eu despertasse logo. Com a morte me espreitando, e o coração a saltar pela boca, eu observava aqueles nativos.
Quantas pessoas não gostariam de estar ali, contemplando aquele momento? Ver a selva de pedra substituída por uma mata praticamente virgem, uma flora intocada. O ar fresco e respirável substituindo as nuvens de poluição da cidade. Não fosse o perigo iminente da morte, não sei bem se quereria mesmo acordar, ou sair dali.
De repente, meus pensamentos foram interrompidos, quando o índio ameaçador puxou meu braço, bradando:
- Recuso-me! Recuso-me!
Recusa-se a que? – pensei – A estabelecer um contato amistoso comigo? A gastar uma flecha boa, pra ter no café da manhã a carne sem graça de um branquelo sem sal? Peraí. Um índio falando português?
E então tudo sumiu. Por um atmo de segundo achei ter sido engolido por um buraco negro. Até que despertei assustados, com os mesmos solavancos no braço. Mas agora, não era um índio que gritava:
- Escusa-me! Escusa-me!
Um italiano, muito bem vestido, me acordava. Eu estava deitado num gramado frondoso, avistando a Torre de Pisa, com a minha companheira fiel, não me deixando esquecer que o que eu vivia não podia ser real – a infeliz ressaca da maldita tequila.
- José Cuervos dos infernos – sussurei, jurando a mim mesmo que nunca mais beberia tequila na vida.

4 comentários:

  1. Legal! Começo, meio e fim! Amizade corta agora entre nós, quem mandou você ser melhor do que eu até em contar uma história! Ai que ódio, você tem que ser O artista o tempo inteiro!
    Esquece.

    Muuuuuuuito bem escrito, nossa! Você realmente, realmente sabe usar as palavras. De certa maneira, nem dá pra perceber que tem palavras nesse texto, de tão suave que ele é!

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  2. Ai, Pj! Que issO?? a verdade, teve começo, meio, e uma reticência neh... ...um final, ou uma continuação provável...


    Vc sempre foi o artista primeiro, entre nós dois. Não é a toa que não canso de propagandear suas pérolas, nas mídias sociais...

    Amo-te! Amor de amigo, e de irmãozinho... rsrs

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  3. Pois a mim me pareceu um ponto final. Tá bem finalizado, não precisa de continuação não. Mas claro que eu vou adorar se tiver.

    Agora vai ser assim, então? Você joga a bola pra mim e eu jogo pra você? Sim, porque eu acho que você que é O artista primário. Você tem um amor muiiiito grande pela sua arte. Eu vira e mexe acho o que eu fiz esquisito e mal feito. E se precisasse eu deixaria de ser artista. Apesar de eu gostar de ser. Nem sei se sou mesmo ou só acho que sou.

    Que comentário grande, né?

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  4. Ha, nem dá nada. Quer ver como eu provo que vc que começou com a arte? E as histórias em quadrinhos que tornavam a aula da Maria Auxiliadora super desinteressantes. Até ela se rendeu a seu talento, lembra?? Rsrs. As histórias que vc jah escrevia... ...naquela época o máximo que eu fazia eram as letras do HistGeo rsrs.

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