sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Por um fio




Ama-me assim.
Como se ama um pedaço de carne.
Degustas, deliciado, meu corpo inteiro,
por puro prazer.

Então, pra que resistir, se o sentimento que lhe devoto
até hoje não se fez recíproco?

Sei bem que o ardor físico me anestesia,
de maneira enlouquecedora, por sinal.
Mas o problema é que a dor sempre volta.
E a cada volta, mais gigantesca.

Destruidora.

Cruel.

Logo, o que mais me resta,
senão tentar anular-me de seu mundo?

Espero que seja em breve, antes que
minh'alma se parte em zilhões de nanopartículas.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

É do babado, bonita!



A vida de um gay numa cidade pequena pode não ser fácil. Mas hoje, eu, por experiência própria, acho um tanto quanto irônica, em alguns aspectos. Enquanto homoafetivo assumido, há cerca de dois anos, fico embasbacado ao perceber que numa cidadezinha de 18 000 habitantes existam tantos homossexuais, e como alguns deles tem suas ações tão influenciadas pelo "dominante mundo hétero".

É certo que, em sua maioria, os gays daqui vivem encubados. Ainda não acharam a tão sonhada saída do armário, e fingem ser os machinhos com sex appeal. Porém, o absurdo é eles precisarem ofender outros gays, que se sentem confortáveis com outro estilo de vida, pra provarem sua "pseudo-heterossexualidade". Pra fingir algo, não é necessário desrespeitar ninguém. Parece, no fundo, uma inveja por esses outros terem conseguido se libertar. Sei bem que o monstro desprezível que é o preconceito, acaba por ditar muitas dessas ações, mas daí a cometer uma ofensa, no fundo, contra si próprios, é uma periclitância!

O fato é que, a meu ver, há muito ainda o que conquistar, com a militância LGBT. E enquanto certos homoafetivos continuarem com esse comportamento, aí é que seremos verdadeiramente uma minoria, ainda menos ouvida nos pleitos. Então, como resolver esse dilema?

Deixando a modéstia de lado, nos últimos dois anos, só fiquei sozinho quando quis. E tive tanto relacionamentos efêmeros, quanto, de certo modo, duradouros. E a mim, tanto fazia se os caras eram afeminados, masculinizados, discretos, espalhafatosos. Isso tudo são esterótipos construídos culturalmente. E é fato que temos uma cultura preconceituosa e limitadora. Nos meus relacionamentos o que me importa é que eu me sinta bem, e que me respeitem à minha maneira, com as devidas reciprocidades, claro.

Como seria tão mais simples se pudéssemos das um banho de alteridade no mundo...


PS: usei das terminologias "homoafetivo", "gay", "homossexual", porque pra mim o desrespeito pode estar no teor com o qual as palavras são escritas, ou ditas, e não necessariamente no vocábulo em si.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Olelê, olalá!




Até que dessa vez o tal Rei Momo me foi mais generoso.
E fez do meu carnaval um delicioso desafogo.
A Colombina acabou por seduzir um Arlequim e um Pierrot.
Mas não sem antes ter sido rejeitada por trocentos mascarados.

Cinco dias de puro frisson.
Que não se repetem, antes de outros 360.
Como não aproveitar ao máximo?

Rodeado de pessoas lindas,
amigos de longa data,
e o torpor totalmente tentador da bebida e do sexo.
Deus! Impossível resistir!

Analogias à parte,
esse meu fim de fevereiro foi um daqueles momentos ímpares.
E serviu mesmo como um divisor de águas,
um rito de passagem para um novo desafio.

Como sobreviver ao maravilhoso resto da minha vida.
E como não enlouquecer com a espera da próxima folia.

Agora sim acredito que 2012 começou.

Mesmo sem dizer




O olhar que me ludibria.
O encanto que se revela, em cada traço.
A careta, enquanto dormia.
A vontade de me perder num eterno abraço.

De prazer te fazer sorrir.
E medir o contorno inconstante de nossas mãos.
E jamais te deixar partir.
Perceber que os momentos de ardor nunca foram vãos.

E significaram mais do que apenas toque.
A julgar pelo seu jeito irritadiço, ao sair da cama.
Às vezes, depois da transa, quão o meu choque.
Ao ver você, entre lágrimas, dizer que me ama.

E então eu lhe devotava todo o amor, mesmo sem dizer.



terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Expecto Patronum!



E de novo
aquele doce amor de outrora
me toma outra vez.

Me fazendo lembrar de tudo.
Todos os suspiros de adolescente.
Todos os telefonemas infindáveis.
A contagem regressiva que até hoje não findou.

Ressurge, esse amor,
de uma forma comedida.
Mais maduro, atencioso.
mesmo cauteloso.

Não por medo.
Mas apenas por cuidar
pra que não soframos mais.

A espera é sufocante.
A distância, uma tortura.
E olha que nem existe uma faceta masoquista em mim.

Não demora, ainda te cobro aquela promessa,
sobre uma certa praia.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

E volta o cão arrependido...!




Essa vida é realmente uma palhaçada.

Uma palhaçada sem tamanho.

Você sai pra curtir seu carnaval,

e de repente depara com um louco, homofóbico,

sedento por carnificina, bem a espreita.

Mais próximo do que você jamais imaginaria.

Quando um boy chega em você, aceita os seus sinais,

conversa, demonstra simpatia, interesse,

marca um encontro pra mais tarde...

...é normal que você espere, não é?

Quando esse boy até te pergunta se você mora sozinho,

se é discreto (ai, que preguiça que eu tenho dessa pergunta),

deixa tudo ok, e pede pra esperar pelo local e o aceno...

...o que fazemos, a não ser esperar?

Quando o boy interessa, é simpático, gente fina...

Esperamos...

E aí aparece um amigo babaca que acha graça de tudo, constrange os dois, e causa confusão.

Genial! Viva o mundo hétero.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Fantasia




A chuva castigava feito açoite suas costas nuas.

Seus ombros largos.

Mas seu corpo contraído, pelo frio não me dava pena.

Apenas aguçava meu desejo.

Seu peito nu, e molhado.

Suas pernas encharcadas de lama.

O cabelo grudado nas têmporas.

Deus!

Se você pegasse uma constipação, tudo bem.

Desde que permanecesse ali, para o meu eterno deleite.

Mas meu instinto sádico foi refreado, e lhe mandei entrar.

Com uma toalha, me pus a tocar seu corpo.

Com a desculpa de secá-lo logo e lhe poupar de um resfriado.

Se bem que, a mim, muito mais aprazível seria

sorver cada gota com minha língua.

Resvalar meus lábios em sua pele macia.

E aquecê-la, com meu abraço.

Puro frisson!

Entretanto, fui despertado de meus devaneios,

quando toquei seu sexo, viril.

Você se assustou, fechou a cara e bateu com a a porta.

Não sem antes me lançar um olhar curioso, de soslaio.

Amar entre primos é permitido?

Desertar




E quando você vem pra mim,
com sua face escarlate.
Não consigo enxergar outra cor
que não a cor-de-rosas.
As lembranças turvadas do ardor
voltam, em disparate.
E relembro teu jeito de amar,
tuas armas tão vis e ardilosas.

Perco-me, quando me olhas assim.
Com esse misto de desejo e sofreguidão.
E eu não quero nada mais, então, do que
deixar-me hipnotizar, resoluto.

E depois, a ordem avassaladora em que
tudo se desenrola.
A ânsia do toque.
O torpor da lascívia .
Os espasmos convulsivos da total entrega.

Nesse momento, revivemos uma nesga da felicidade de outrora.
De tempos nos quais gozávamos, sem compromisso e sem culpa.
Eu desisto! Hoje sei que isso passou de apenas paixão.

E é quando você sai de mim,
com sua face escarlate.
Só consigo pensar na saudade,
até que você volte.
E o que sinto, tão forte, em meu ser,
causa em mim disparate.
Pega então minha mão e me leva.
E que nunca mais solte.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Causa Mortis



Palavra morta.
É quando me vem a inspiração
E não disponho de papel e caneta.
Nem notebook.
Nem mesmo de um telefone celular.
Pra metamorfosear meu pensamento
Em palavra viva.
Sei que dela me voltará um certo lampejo.
Mas nunca, na forma de outrora.
Palavra que só teve vida idealizada.
Que morreu sem nem direito de fazer-se lida.
De fazer-se mil, em meio às múltiplas visões
E interpretações que se podem construir
Por aqueles que amam a criação literária.
Que não mais me venha à mente, se eu não tiver como pari-la.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Orando pra mim mesmo




Aprende a suportar a dor.

Aguenta o flagelo.

Lida com a perda.

E torna-te forte.

Quando muitos não mais

Acreditarem em ti.

Prova a ti mesmo o quão grande és.

Quão grande é a força que inunda teu peito.

Que te alavanca até as mais improváveis sortes.

Torna –te capaz de rir.

Sem a obrigatoriedade da anedota.

Faz da vida uma delícia desafiadora,

Que por fim te trará bons humores.

Cativa-te, a ti mesmo.

Que por fim, todos o sentirão cativo.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Cócega



É uma pena que você seja The one that got away.

Quando te via, meu coração soltava Fireworks de tanta alegria.

Só de lembrar daquela Last Friday night, onde quase beijei o seu Peacock, meu deus!

Me arrependo amargamente de ter Kissed a girl um dia!

Esteja Hot n’ cold, Ur so gay!

E eu gosto tanto disso!

Nem mesmo a aparição de um E.T. me surpreenderia mais.

Todas as California gurls ficam no chinelo, quando me lembro de vc.

Te amo!

E viva a Katy Perry!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

E deixo que o passado entre









O chão rachado e avermelhado daquele quintal.
A escada, antes da rampa.
A delícia que é a nostalgia.

O quartinho de quinquilharias.
O pé de jabuticabas.
O medo das cobras-cipó.

Infância.
No quintal de minha avó.

O terror dos pivetes na praça.
Eu era realmente um cagão.
Mas gostava disso.
E isso traduz muito do que sou hoje.
(risos)

Jogar garrafas vazias no telhado da casa.
Pra depois velas cair, em estardalhaço.
Libertador!

Brincar de carimbos na casinha da madrinha,
que a nós, era um mundo!
Que vastidão!

A proximidade inexplicável com meu primo
cinco anos mais novo.
E hoje temos mais similaridades do que pensei.

Brincar de dar susto.
Os risos.
As brigas.
A delícia do desculpar.

Por que foi que não nasci Peter Pan?





domingo, 5 de fevereiro de 2012

Lacuna


O céu ainda é o mesmo.
As luzes amarelas nos postes, também.
O asfalto duro em meus pés
e o cigarro que já finda
só fazem-me lembrar
que você também se foi.

E eu me sinto cada vez mais só.
E eu me sinto cada vez mais suscetível aos vícios.
E eu me sinto cada vez mais próximo do câncer.
Cigarros, drogas, álcool, comédias românticas na tv.
Me sinto como Rihanna, em We found love.

É a lacuna que esgarça com meu peito.
Quando você se vai.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

"Tears on my face"




Depois que o peso da lágrima sái de meus olhos
percebo que tudo se desanuvia.
Consigo enxergar as coisas com mais calma,
quando o dique de dor e raiva se rompe, em meu peito.
E me inunda de um alívio pacificador.

Vejo que me fez bem ter chorado.
Mesmo que meus olhos tenham inchado tanto
a ponto de fazer parecer que eu fora espancado
por um pugilista.

Percebem? Até melhora o meu humor.
Ao menos um não-revés.

Sei que o sentimento de culpa que se transfigurou nessa dor é indevido.
Porém, não consigo deixar de sentir seu peso.

Pessoas tem opiniões diferentes.
Corações diferentes.
Noções diferentes - e talvez errôneas- de certo e errado.

Mas talvez não consigamos condená-las por isso.
Mesmo que nos magoem.
Mesmo que nos entristeçam.
Mesmo que, eles sim, nos condenem
e atirem nosso amor próprio aos cães.

Eu simplesmente não consigo me livrar de meu alter-ego.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Lover Writer



Escrevendo.
Ricocheteando com as sílabas no papel,
ou na tela.
Como que feito oferendas à sapiência de quem me lê.

Num relance, faço com que as letras ganhem vida.
E discorro sobre assuntos ímpares.
Política, militância, revezes da vida, frivolidades, o amor.
Ha! O amor! Como me agrada escrever sobre ele!



Se bem que, vez ou outra, me sinto um escritor meio piegas.
Um tanto melodramático, e mesmo muito passional.
Porém, convenhamos.
Não se fala mais, com muita desenvoltura, sobre amor verdadeiro.

Sobre ele escrevo de maneira pura, crua, assaz visceral.
Como se cada batuque que ecoa em meu peito fosse feito o motor
que dá vida à máquina das letras de meu pensamento.

Mas quando se ama escrever fica mais fácil escrever sobre o amor.
Todavia, será que amam o que escrevo?

Dúvida...

Good Night




Congratulações à noite.
Por surgir na plenitude agraciada
do momento em que nos beijávamos.

Luzes faziam-se trevas à nossa volta,
mas parecia que a lua, clareando o negrume do céu,
acendia-me e incendiava-me por dentro.
Ascendia-me ao patamar do gozo dos deuses.
Rescindia-me da culpa de não ter antes me entregado a ti.

Que mesmo turvadas pela escuridão do anoitecer
nossas visões possam se encontrar em um foco comum,
de amor devotado.
E que as horas da noite perdurem por séculos.

Fazendo-me mirar estrelas em seus olhos lânguidos.
Guiando-me de maneira melhor do que todas as Ursas.
Levando-me até o mais profundo do teu coração.

Que se dane se amanhecer é preciso.
Por você sou capaz de atrapalhar a lógica das coisas corriqueiras.
Mesmo que não vejamos mais a luz do dia.

Casemo-nos então, com a etérea noite.

Balada do apaixonado





Tento me esquecer daquela noite.
Não lembrar daquele traço.
Não lembrar daquele amasso
nem daquela voz.
Me perdi naquele abraço
de um jeito atroz.
Bagunçou o meu compasso.
Confundiu.

Sempre que me pego em pensamento.
Que me deixo em devaneio.
Que me livro do receio
penso em você.
Que desatinou meu freio
e a ladeira a descer.
Que me fez de novo meio
passional.

Entregue.
Deliberadamente
entregue.
Inconfundivelmente
entregue.

De uma forma que machuca.
De uma forma que avassala.
Que atravessa feito bala
meu peito e me lança ao chão.

Me segue.
Seja em qual caminho for,
me segue
e me mata de amor.
Me segue.

Pela estrada do desejo.
Com uma escala no gracejo.
Em destino a meu beijo.
E em recompensa, um coração.

E depois dizem que o amor não nos embeciliza.

O "tu tu tu" que dói do lado de cá da linha...




Pra te falar a verdade, eu fiquei sim, muito feliz, por você ter me ligado.

De BH, de Monte Alegre, Ituiutaba, Uberlândia, de Ilhéus...

Da Conchinchina, que seja!


Bêbado ou são, romântico ou safado, não interessa.

O que importa é que eu fiquei muito contente com a lembrança.

E espero mesmo que nos encontremos muito em breve.

Seja pra fazermos amor na areia densa de uma praia

Ou pra bebermos uma gelada num barzinho, feito amigos.

Mesmo que eu tenha que esconder a sete chaves meu desejo.

Te espero.

Justo porque você existe.

Estações



Era como se fôssemos apenas poeira.

Centelhas de terra, praticamente invisíveis.

Infinitamente distantes, muito longe.

Mas ainda assim, era amor.

Incomensurável.

Devotado.

Escondido, porém

exacerbadamente sutil.

De uma forma que nos encanta quanto se revela.

Como uma flor bela de lírio, que tarda

Mas sempre nos agracia com o vislumbre

de seu despetalar.

Que essa primavera não mais demore.

E quando vier, que nunca mais se finde.

E que me inebrie eternamente com seu perfume.

Na leveza e na pureza do ser.

Será que é tarde pra eu dizer que ainda te amo?