sábado, 31 de dezembro de 2011

2012




Não espero muita coisa desse próximo ano.
Quero dizer, não muita coisa, relativamente.
A coisa que espero com veemência traz consigo algumas outras.

Espero respeito.
Pra com ele, poder me sentir digno, e honrado por existir como sou,
à minha maneira.

Respeito, a mim, significa poder amar quem eu quero,
sem ferir ninguém, e sem que seja preciso
quebrarem uma lâmpada na minha cabeça por isso.

Respeito significa não ser motivo de chacota no trabalho e na família
devido à minha orientação sexual, que condiciona minha existência plena.

Respeito é eu não precisar me refugiar em guetos, me isolar do mundo
pra me sentir mais confortável, menos esmagado pelos pré-conceitos.

Respeito é eu poder acariciar meu namorado em público,
de uma maneira afetuosa e inocente, sem que milhares
de olhares de asco se lancem a mim, ou sem que eu seja acusado
de estar cometendo atentado ao pudor.

Respeito é poderem perceber
que sou também ideológico, político, místico
e não apenas sexual.

Respeito é eu não precisar ser enforcado,
em algum lugar do oriente médio,
apenas por gostar de pênis.

Respeito é eu saber que tenho sim liberdade de expressão,
mas que minha liberdade termina
no mesmo ponto em que começa a liberdade do outro.

Respeito é os pais perceberem
que piadinhas homofóbicas feitas ao longo da infância
podem criar barreiras, e prejudicar psicologicamente
seus filhos, ao longo da vida.

Respeito é as igrejas não dizerem que sou antinatural,
e que vou arder no inferno, por gostar de beijar homens.

Isso é ser respeitado.
E espero pra 2012, 2013, 2014
que eu não precise mais implorar por respeito
e possa então partir pros outros itens
da minha lista de prioridades para o novo ano.




Feito Reféns




Desalinho de amor latente.
Avassala e dói.
Esfacela sem dó meu peito
a fio de navalha.
Conjurada é a paixão, dantesca.
O orgulho corrói.
Subjuga feito um lacaio
meu ser-migalha.

Amando-te.
Enlouquecidamente.
Inconsequentemente.
Assaz veloz e rente
seu peito ao meu.

E o ardor físico anestesia a sofreguidão.
E é mais difícil o passar do tempo, o dizer que não.
Gozamos juntos e o desespero foi mais que vão.

Eternos reféns por conveniência, de tudo isso.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Te Dedico!



Quero você agora.
Despido de todo o comedimento.
Quero você lá fora.
E dentro de mim a todo momento.

A cada toque.
A cada suspiro.
A cada cúmplice renúncia.

A cada afago.
A cada sorriso.
A cada abafada pronúncia
dos "eu te amo"s.

Que eu nunca me canse de me emocionar
com suas surpresas.
Que eu nunca deixe de valorizá-lo
por suas proezas.

E amassá-lo por isso.

Que minhas baladas só se finalizem
com os seus refrões descompassados.
Que os meus desejos só se amenizem
com seus abraços apertados.

E que sejas meu, dedicadamente.
Pois de ti já sou todo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Merry Xmas, Family!



Não sou um rebelde sem causa.
Menos ainda um militante irreflexivo.
Pelo contrário.
Minha revolta é o mais puro reflexo de como
algumas pessoas me tratam.

Não quero ser tratado cheio de cerimônia.
Cheio de dedos.

É fato. Se você é homoafetivo, muitos te tratam
como se você estivesse envolto por uma redoma de vidro.
E qualquer palavra mal dita a faz se romper.
E estilhaçar-se em pedaços mil.

Ninguém é preconceituoso.
Desde que não se toque no assunto.
Você pode sim, ser gay.
Desde que não demonstre.

Ora, que se danem todos!
Agora compreendo porque a maioria dos gays se sente melhor reclusa,
em guetos, longe da família.

Algumas pessoas simplesmente não entendem.
Nem se esforçam para tanto.
E hoje, meu ego é maior do que a vontade de ensiná-las.

Minhas tentativas findaram.

Às vezes, é difícil pra um pai entender um filho homoafetivo,
na mesma medida em que, às vezes, é muito difícil pra um filho
crescer sabendo que seu maior ídolo o desprezaria, se soubesse
quem ele realmente é.

Por isso, o diálogo é fundamental.
Alguns de meus familiares não primaram por ele,
e acabaram me causando muita dor.

Por exemplo, uma adorável tia
teve a brilhante idéia de dizer à minha mãe que não me incentivasse,
não entendesse a minha homossexualidade, não conversasse comigo, a respeito
de namoro, de sexo, de sentimentos, como tentativa de coibir meu "comportamento doentio"

Fico grato por mamãe não ter lhe dado ouvidos.

Foi essa mesma tia, que, com o apoio de seu escudeiro fidelissímo filho mais velho,
bisbilhotou nas minhas coisas até descobrir o meu segredo abominável.
Não obstante, contou tudo pra minha mãe, sem que eu soubesse
e acabou por praticamente me obrigar a contar tudo pro meu pai.

Já ouviram falar das Irmãs Cajazeiras?

Uma outra beldade da família quiz tentar me repreender
por eu conversar sobre meninos com uma prima mais nova.
Como se falar sobre beijo na boca com uma adolescente
fizesse de mim um pedófilo, pervertido, corruptor de menores.
Ha é, eu me esqueci. É que eu sou gay, né?

Sem falar nas inúmeras vezes em que trataram com desprezo
e dirigiram olhares de asco a meus amigos afeminados.

E se dirigem a mim cheios de flores e sorrisos.
Mundo hipócrita.

Chego a me questionar o real significado de quando me disseram que graças a
deus minha avó faleceu sem saber do meu problema. Será que falavam mesmo da depressão?

E ainda querem que eu me desculpe por ter sido grosseiro, ao falar deles, no meu
blog, numa postagem anterior.
Que ironia do destino, não? Espero que me peçam desculpas a um ano, também.

Sinto muito se não chegar a tempo de cortar o peru,
mas minha vida não é um comercial de margarina.

Feliz Natal a todos.