sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Reformulando a canção

-Borboleta preta
da asa amarela.
O que fazes aqui?
-Esperando a Gabriela.

-Alecrim.
Alecrim dourado.
Fazendo o que no jardim?
-Namorando com o conrado.

Ciranda, cirandinha.
Vamos todos cirandar.
Pegue então na mão da Bete
que ela adora é rodar.

Atirei o pau do gato
mas o gato não morreu.
Teve apenas um coágulo
e seu pé de distendeu.

O anel que tu me destes
era mesmo de latão.
O amor que eu tinha nele
era nehum mesmo.

E o cravo brigou com a rosa
por causa da borboleta,
que, pra visitar o amigo gato,
se esqueceu da polinização.

Preferível o caos

Como pode alguém gostar
tanto assim de outro alguém?
Como podem ultrapassar
dessa forma aquele outrem?

Aquele outrem é o sentimento
egoísta, o amor próprio.
Individualidade.
Doce ópio.

Deslumbrantes sensações
sexualmente apetecíveis
enfatizadas notoriamente
sem observações.

Sem prescrições.
Uso exagerado.
Overdose de paixões.
Amor descompassado.

Preferível seria o caos
que no ócio de seu desconjunto
mistura pensamentos maus
a toda a falta de assunto.

Então, de repente, explode
cegando a tudo e a todos.
Não apenas aquele outrem
submisso, lama e lodo.

Façamos então assim:
esqueçamos desse assunto.
Pois filosofar sobre o amor
não caberia, aqui, no poema,
não caberia, aqui, no caderno,
não caberia no refrão
de nehuma canção.
Nem mesmo no do bolero.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O amor e suas facetas

Amor secreto.
Amor sublime.
Amor que é tudo e mais além.
Amor de festa.
Amor de sonho.
Amor que em todos se retém.

Amor perfeito.
Amor poeta.
Amor criança, pueril.
Amor no corpo.
Amor na alma.
Coração a mais de mil!

Queria eu ser todo isento
do sentimento comunal.
Mas vem em mim todo o tormento,
como em todo ser normal.

Avassalando, dominado,
tomando conta de mim.
Amante eterno, seu escravo.
Amando-te até o fim.

Poema pueril

Não me esprema
que eu não saio
assim como por magia.
Sou poema,
sou criança,
ainda não uma elegia.

Conto causos,
conto cantos,
conto tudo e mais além.
Mas não sou como as odes.
Que traçado enorme têm!

Posso falar de amor.
Posso falar de paixão.
Mas não sou como novelas.
Muitos personagens são.

Travo guerras e batalhas
com vitória e desbravura.
Ainda não uma narrativa.
Não me mudo de figura.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sem mais saber

Tudo o que eu vejo já não importa mais.
Todos os dias vão ficando para trás.
E nessa angústia fico sempre a esperar algum motivo que me faça ver melhor.

Não adianta nem tentar retroceder.
Voltar a fita e então saber o que fazer.
Não há mais nada que explique a indiferença e o vazio que surgiram entre nós.

Onde foi que eu me perdi?

Se espero e fico aqui parado o que mais pode acontecer?
Você se distancia. Quase não consigo ver.
A sua foto na estante parece não mais sorrir.
Até quando nos amamos você não está aqui.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Medo

Medo das coisas ao meu redor.
Medo da vida ficar pior.
Medo de morrer na hora errada.
Medo. Justiça valendo nada.

Medo. Juventude sem razão.
Medo. Polícia vira ladrão.
Medo. Viver sempre tão sozinho.
Medo. Cair no redemoinho.

Medo. Tudo ilusão de óptica.
Medo. Sociedade caótica.
Medo. Sempre nessa hipocrisia.
Medo. Sem você o que seria?

Medo. Cerveja de padaria.
Medo. Cair no ralo da pia.
Medo. De cigarra e louva-a-deus.
Medo. Morrer sem dizer adeus.

Acima de tudo
tenho medo de me ver
sem vontade, sem porquê.

Acima de tudo
tenho medo de fazer
a existência escurecer.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

À Deriva

Pessoas andam disparadas
se preocupando com nada
e eu aqui a esperar você.
Tem tanta coisa atrapalhada,
tem gente morta na calçada,
mas mesmo assim, não vivo sem você.

Será possível entender
a intensidade desse amor,
que é só querer, poder e possuir?
Não importa nada, tudo é mera
desimportância, inexistência.
Eu e você, pensar e existir.

Nada importa mais.
Tudo acabou.
Só o seu amor me deixa aqui, à deriva.
Dane-se o falar,
ver ou respirar.
Tenho só em ti minha vida.

Mesmo que tudo se vá
permanecerei quieto
esperando o tempo certo
pra poder te ter aqui.
Nada me faz esquecer.
Nada tira da lembrança.
Te amei desde criança.
Só você me fez sorrir.