quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Eu vou sim mais reclamar



Sabe...
Já me cansei de me sentir piegas.
Já me cansei de me deixar a esmo.
Já me cansei de obedecer as regras.
Às vezes, canso-me de ser eu mesmo.

Não quero mais morrer toda semana.
E ler os livros que me indica a "Veja".
Não quero mais morrer toda semana,
ao responder a todos "que assim seja".

Não quero mais me arrepender dos vícios.
Não quero mais não me entregar aos beijos.
Não quero mesmo me abster dos vícios.
Quero mais devorar tudo o que vejo.

Já me cansei de escrever refrões.
E de dançar ao ritmo da música.
Quero me aproveitar dos beberrões.
Assédio consentido/coisa lúdica.

Sentir prazer gozando masoquismos.
Fazer sofrer, gozando instinto sádico.
E gargalhar da vida, em dadaísmos.
O riso é frouxo e o desfecho é mágico.

Não mais me aborrecer com seus limites.
Mandá-lo loga à "ponte que o partiu".
E não me refrear com seus palpites.
Feito você, encontrarei bem mil.

Vou rasgar meu álbum de figurinhas.
Com nossas fotos, flores adornando.
Nessa felicidade, que é só minha.
Não cabe mais você negativando.

Já me cansei de me fazer alter.
Já me cansei de meu comedimento.
Minha humildade já não mais requer
ser demonstrada a quem não dá fomento.

Agora sou aquela pérola.
Sabes? Bem aquela que se cansou
de ser atirada a uns certos chafurdadores...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Felicità

Raio de sol.
Cor de luar.
Íris de vida.
Me vem ninar.



Prova de amor.
Apego de amar.
Abraço, aconchego.
Vem, me faz sonhar.

Mordida em bombom.
Selinho em meu bem.
Encanto pueril.
Me entrego, refém.

Do mais casto amor.
Prazer juvenil.
O medo e o assombro
já minguam seu fio.

E então descubro a delícia do elevar de minha auto-estima.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Entre vírgulas



Eu sinto as lágrimas arrolando convulsivamente por sobre minha face.
Eu sinto o negrume do céu.
Eu sinto um lânguido torpor.
Eu sinto que nunca antes havia amado alguém de verdade.
Eu sinto você com carinho.
Eu sinto seus olhos se abrindo.

Eu sinto meu peito ruindo se um dia deixar de existir esse amor.
Eu sinto que o tempo faz parte.
"Criança-distância" fez arte.
Eu sinto você bem, comigo, num futuro pleno onde estamos melhores.
Eu sinto perfume de alma.
Eu sinto o sorriso que acalma.

E sinto, feliz, que essas boas lembranças nunca abandonarão meu ser.
Sinto por termos que parar.
Mas sinto que foi sim por amar.

E vou continuar te amando pelo doce e longo resto de minha vida. 

domingo, 5 de agosto de 2012

Bilhete





Escrevo-lhe estes versos de amor.
Dessa vez num guardanapo.
Pois já me declarei tantas vezes,
e de maneiras mil.


Sei bem que, após passado o torpor,
do encanto fez-se fiapo.
Passados já todos esses meses,
eu despi-me do brio.


Não foi só a névoa da embriaguez que me deu coragem.
Não foi só Edit Piaf ao fundo, com Je Ne Regrette Rien.
Foi bem sóbrio que tive à luz de um sol tua casta imagem.
E encantei-me daquela vez primeira, e só quiz teu bem.


Quiz ser teu bem.
Ver fazer teu bem.
E ver-te bem desenhado,
em minha pintura.


Me fiz refém.
Amor-próprio aquém.
E no enlevo de teus olhos
me fiz moldura.


Entrega logo outro bilhete pro garçom
dizendo que volta pra mim?

Oração





Obrigado Deus.
Por tudo o que me tens proporcionado nos últimos dias.
Minha alegria.
Minha crescente sapiência.
Minha auto-confiança em seu ápice.
O pleno amadurecimento de meu ser.


Obrigado por fazer-me sentir Teu filho.
Em total merecimento de Teu amor.


Te confesso, Deus, que,
equivocadamente, havia eu
por vezes, me revoltado contra Ti.


Ao menos, contra a imagem falsa e pitoresca
que alguns homens insistem em pintar sobre ti.
Me revoltei contra o Deus que pune.
Contra o Deus que açoita.
Contra o Deus que é preconceituoso e duro.
Contra o Deus que aflige o que é diferente.


Mas sempre soube eu que Tua real imagem nunca foi essa.


Sempre conciliei a tua imagem à dádiva do perdão.
À imagem do amor e do entendimento.
À imagem de glória e comiseração.


Aquela pseudo-divindade
rascunhada pelo homem,
apedreja-me, ainda hoje,
por eu ser gay.


Me espezinha.
Me grita palavras que ferem.
Me lança olhares que arranham na alma.
Que me sufocam e dilaceram.


Mas a dor sempre passa.
Pois eu sei, meu Deus, que sou gay
porque Tu assim me fizestes.
E enxergo isso como grande qualidade,
digna de mérito.


Eu Te amo, meu Deus,
por me dar suporte e me fazer ficar de pé.
E vou sempre ajoelhar-me, em sinal de agradecimento.


Muito obrigado por me permitir viver.
E por me dar uma família.
A coluna que ampara.
Raio de sol que revigora.
A grandiosidade de Teu amor.


E que pra sempre me brinde, com Tuas bênçãos.
Amém.