segunda-feira, 27 de junho de 2011

A carta (Parte III)



Se eu resolver sair daqui, minha mãe sái junto. E eu realmente tenho muita pena dela, porque ela vive em uma situação de total tensão, porque, infelizmente, ela ainda ama você. Mas sei também que falta uma linha bem fina pra arrebentar, pra que esse amor finde de uma vez. Será que é porque você disse que eu só sirvo pra te envergonhar? Ou será que é porque você disse que ela acoberta as “coisas erradas” que eu faço? Acho que não. Acho que a gota d’água foi quando você disse que, se dependesse de mim, ela já teria “dado” pra outro cara a muito tempo. Como se eu cafetinasse a minha própria mãe. Engraçado. Na verdade, isso foi mesmo circunstancial, praticamente planejado pelos deuses. Você fez essa infeliz observação justo um dia depois de eu defender minha mãe de um bêbado idiota que queria dar em cima dela, mas ela estava com medo, porque além de idiota, esse cara é um criminoso, ex-detento, perigoso e traficante de drogas. Ela achou a minha atitude um ato incondicional de amor de um filho para com sua mãe. Até mesmo a Naomi, que estava conosco, e viu a cena, achou muito honrada a minha atitude, e inclusive engraçada, porque eu saí praticamente correndo atrás da minha mãe, pra defendê-la, enquanto o babaca em questão começava a querer se aproximar dela, bêbado. Ela disse que eu parecia um filhote de leão com ciúmes e querendo defender a mãe. Pra você chegar no outro dia e falar uma barbaridade daquelas? É realmente pra minguar com qualquer tipo de amor mesmo.
Continuando, se eu sair daqui, minha mãe sái junto. Aí sim, vai ser a sua ruína PESSOAL, FINANCEIRA E AFETIVA. Entenda como queira. Embora você diga que é o macho-alfa da casa, que você manda, que só você pode aqui, que “a porta da rua é serventia da casa”, você sabe que você é muito menos sem mim, ao menos nos últimos 5 anos, e principalmente, você sabe que não é, nem nunca foi NADA, DEFINITIVAMENTE NADA, sem a ajuda da minha mãe. Então, a partir de hoje, meça milimetricamente seus atos.
O que seria o terceiro motivo pra eu continuar aqui, a mim, já não tem mais tanta importância. Na verdade nenhuma. Eu esperava que com o tempo, e com a volta da sua convivência comigo, você me compreendesse. Realmente, é esperar demais de você. E isso vai muito além de fingir que as coisas não estão acontecendo. Eu não preciso ser aceito por você nem por ninguém. O princípio da aceitação parte do pressuposto de que já existe um grupo superior, com mais direitos e mais razão, que deve se apiedar e aceitar outras pessoas. Não preciso e não quero ser aceito. Quero ser compreendido enquanto ser social, econômico, político, místico, ideológico, e porque não, sexual.

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