segunda-feira, 30 de abril de 2012

Canção de lamento






Quisera eu poder arrancar só uma parte de ti.
Só aquela que me faz sorrir.
E então, tê-la, por completo, em mim.
Só aquela que me faz feliz.
Faz parecer que o mundo tem fim,
se não tenho você, bem pertinho.
Bem colado, agarradinho.

Quisera eu me esquecer do torpor
que é a tristeza de quando se foi.
Que eu pudesse me esquecer da dor
de quando deste-me o revés do "oi".
De quando as portas me batestes todas.
E então cobriu, sem pena, o olho mágico.

Trágico.

Não posso mais olhar você dormindo.
Rir da careta desenhada em sonho.
Nem me jogar em seus braços, se abrindo,
naquele abraço que me faz risonho.
Seus braços não me deixam mais sorrindo.
Me dá de volta meu abraço de urso.

Se esqueça de quando te amedrontei.
Se esqueça de quando te fiz chorar.
Pois de remorsos eu também chorei.
Queria que pudesses perdoar.
Lhe ofertaria as nuvens do céu todas.
Raios do sol, pra me amar de novo.

Sem você a ladainha se eterniza, sem nem ter refrões,
em meu coração.



sábado, 28 de abril de 2012

Apenas um jeito diferente de amar





Ele adora futebol.
Eu nem sei bem, ao certo, o que é um impedimento.
Ele até que tentou que eu tomasse gosto pelo esporte.
O máximo que eu fiz foi mandar uma cartinha pro Romário, do Flamengo, e engavetar o assunto.
Ele é meu pai e eu sou seu filho.
E eu o amo.


Ele escuta boleros.
Eu vou mais de rock n' roll.
Ele chora com Lindomar Castilho.
Eu até gosto da versão de "Vou tirar você desse lugar", dos Hermanos.
Mas as divas do pop music, mais do que me seduziram.
Ele é meu pai e eu sou seu filho.
E eu o amo.


Ele é dado a filmes de faroeste.
Eu prefiro thrillers, e temas ligados à militância.
Todavia, ele assiste ao Exorcista sem maiores problemas.
E eu até que me distraio com uns certos cowboys, da Montanha Broakback.
Ele é meu pai e eu sou seu filho.
E eu o amo.


Ele sente atração por meninas,
e se casou com uma adorável, minha mãe.
Eu espero delas somente amizade,
mas também penso em me casar.
Ele é meu pai e eu sou seu filho.
E eu o amo.


Ele, de início, não entendeu que eu fosse gay.
Apesar de eu sempre entender que ele fosse hétero.
Ele me decepcionou bastante.
Eu não correspondi à todas as suas expectativas.
Mas é meu pai, e eu sou seu filho.
E eu o amo.


Ele foi muito injusto comigo.
Eu, de certo modo, me deprimi.
Ele me disse palavras que eu penso não ter merecido.
Eu me rebelei, mas não sem causa alguma, como alguns disseram.
Ele é meu pai e eu sou seu filho.
E eu o amo.


Ele viu que sua postura me prejudicou.
Eu percebi que, de certa forma, devia entender seus valores.
Ele tentou não torcer mais nariz para os meus amigos.
E eu não trouxe o meu namorado para apresentá-los.
Ele é meu pai e eu sou seu filho.
E eu o amo.


Ele sente por eu ter me afastado dos seus.
Eu não vejo mais motivos pra me aproximar de muitos deles.
Ele se enervou ao descobrir o que alguns me fizeram.
Eu só o poupei por não crer que fosse compreender.
Ele é meu pai e eu sou seu filho.
E eu o amo.


Ele parece estar tentando mudar.
Eu não me contenho de alegria, por isso.
Ele agora entende que é o meu jeito de ser.
Eu nunca quis estar mais certo que ele.
Ele é um bom pai e eu sou um bom filho.
E eu o amo.


Sei que ele me ama também,
e isso basta, por hora.


O resto, o tempo se incumbe de fazer-nos conquistar.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Aspas




Pessoas transitam.
Carros buzinam.
Luzes iluminam
e você está aqui.
Bem aqui.
Dentro de mim.

Vozes palpitam.
Humores vacilam.
Flores cintilam
e você ainda aqui.
Bem aqui.
Tão dentro de mim.

E o arrolar das horas sem você tanto sufoca!
Parecem ser seus beijos tudo o que me mantém vivo.
E a falta dos seus olhos tanta dor em mim provoca!
Me traz de volta o lúmem, me faz de novo cativo.

E me inspira outra vez a fazer arte, de uma maneira mais feliz.


Tratado de Rendição




Às vezes o amor vem, te surpreendendo.
E causando em sua existência terremotos, maremotos,
e todos os outros "otos" que houverem mais.

De início, ele te vira do avesso
de uma maneira, digamos, bem estranha.
Como se seu esfíncter tomasse o lugar do seu pulmão.
Seu cérebro fosse parar no seu coração.
E a garganta invadisse os domínios do seu estômago.
É claro, junta com todas aquelas sim/anti páticas borboletas.
Acredite. Pode até ser que não seja de todo ruim.

Quando amamos parecemos virar adoráveis clichês.
No sentido mais que dulcíssimo da palavra.
Só é uma pena que quase sempre nos sintamos diabéticos,
a esse respeito.
Difícil é ministrar as dosagens certas de insulina.

E como num jogo, o amor também tem de suas cartas marcadas.
Menear entre apostar ou não todas as fichas é uma tortura inglória.
A distância se torna a maldita Rainha de Copas,
e talvez não lhe reste outra escolha senão se entregar.
Inanimado feito um dois de paus.
Renda-se. Isso é estar amando.

É como se de um regato se fizesse um Mar de Ilhéus.
De um modesto ranchinho, um arranha-céu.
De uma cova rasa, um mausoléu.

E que enterremos lá nosso amor-próprio.
Que sorte é estar enamorado!

sábado, 14 de abril de 2012

Amor!?




Com o pensamento vago.
Com a precisão mais ínfima.
Com a mais certa das incertezas,
ponho-me, aqui, a discorrer sobre o amor.

E o que ele é, senão
a mais misteriosa manifestação do humano,
que tenta, com pouco sucesso,
coisificar o que é sentir?

O que é sentimento.
O que é pele.
O que é sentimentopele.
O que é posse.

O amor, a meu ver, é o mais egoísta
de todos os sentimentos.

Se tenho a quem amar, sou mais que sorrir.
Se não, me acabrunho em um ensimesmamento,
numa sensação gigantesca e inquietante de incompletude.
Mesmo que eu vista uma falsa armadura,
tentando convencer as outras pessoas do contrário.

Posso viver muito bem, sem ter a quem odiar.
Ou a quem invejar.
Me apiedar.
Mas sem amar...
...sem poder amar, eu pouco seria.

Vês?
É mesmo impossível falar sobre o amor
numa lógica racional.
Já estou eu a começar a sentir os "Huum... ...ahh" (suspiros) por dentro.

Não deve ser à toa que
tenho a mais nítida impressão de que
essa foi minha tentativa mais frustrada de escrever sobre algo.

Com certeza o amor não foi feito pra ser pensado.



sexta-feira, 13 de abril de 2012

Revés




Às vezes nossos humores não são dos melhores.

Às vezes acordamos de ovo virado.

O dia fica “zicado”.

E a lei de Murphy se faz confirmar bem mais do que deveria.


Em dias como esse, não se preocupe.

Todas as quinas de sofá encontrarão seus dedinhos.

Os chinelos ficarão inalcançáveis em baixo da cama.

E aquele deus grego vai aparecer na sua casa,

exatamente no momento em que relaxas sua cútis facial

com creme de pepinos.


E nem adianta xingar o diabo,

ou o caralho do cão da gota serena.


Há dias em que, literalmente, nossos anjos da guarda parecem ter tirado folga.

Não conseguimos pensar em nada o que fazer, a não ser esperar que logo terminem.


Mesmo com a tampa da pasta de dente caindo no ralo da pia.

Sua carteira brincando de “gato mia” com você

(vide a sutileza do detalhe de que ela não sabe miar).

E os passarinhos vendo nos seus cabelos

o supremo paraíso da evacuação.


Brindemos, então, com fina ironia, aos dias de desventura.

E que não enlouqueçamos, com a infinitude de suas horas.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Amemo-nos!





Reconheço todas as formas de amor.

Aquelas que são miradas por olhares ternos, vistas como exemplos de relativa retidão.

E também aquelas para as quais uns e outros torcem seus narizes.


Aquelas que são concebidas por seres humanos.

HUMANOS.

Sensíveis.

Por vezes, fracos.

Passíveis do erro, mas, às vezes,

das mais doces e fortuitas sortes.


Entendo o amor incondicional.

Devotado de um certo alguém pra um certo outrem.

Ou de “alguéns” pra “outrens”, que seja, porque não?


O amor de um homem por outro.

De uma mulher por outra.

De uma mulher por um homem.

(As coloco aqui, segundo minha ordem decrescente de empatia – risos).


E também de um homem por outros.

De uma mulher por outras.

De um homem, por outro homem e uma mulher.


Simplesmente, acredito no amor.

Do jeito que vier.

E sempre digno.


Que fique dito que o meu eu compartilho com um homem só.

E espero que a recíproca seja verdadeira – mais risos.


Só queria mesmo expressar que compreendo o diferente.








O artista e o poeta




Eis que, como que por encanto, tudo aconteceu.
Eis que seus olhos, nos meus, brilharam.
Eis que as peles se avermelharam.
Eis que seu corpo aquiesceu.

Eis que, tocado pelo acalanto, o poeta se derreteu.
Eis que seus pelos se eriçaram.
Eis que as batidas se aceleraram.
E o coração desembruteceu.

Eis que o artista se apaixonou pelo poeta.
Feito Picasso, ganhando um beijo de Neruda.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O desnortear das horas...




Amanhã,
depois que o vento soprar,
tudo terá mudado.

Já haverei de ter sentido, em plena emoção.
Já haverei de ter sentido, em pele e coração.
Já haverei de ter, finalmente, conhecido você.

Amanhã,
depois que o vento soprar,
meus olhos terão brilhado.

E os seus, causado em mim vermelhidão.
Loucura, encanto, ardor, tenaz paixão.
E então, já não terei nem mais o que querer.

Nada mais.
A não ser querer contemplar tua forma.
Nada mais.
A não ser querer desvendar tua alma.
Nada mais.
A não ser querer. Desejo egoísta.

Nada mais.
A não ser querer entoar teu canto.
Nada mais.
A não ser querer ver pintar teu quadro.
Nada mais.
A não ser você, meu, pra sempre, artista.

E é quando me eternizarei naquele garoto esperto,
que adora saber dizer palavras bonitas,
apenas por poder lhe fazer sorrir.

(imagem de Daniel Noronha)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Todo meu




Não quero me lembrar apenas das palavras doces.
Quero poder me lembrar também do desejo áspero.
Dos toques salgados e dos suspiros macios.
Dos beijos molhados e do sorriso arredio.
Do corpo pesado, me despindo do brio.

Quero que eu possa permitir-me rir.
Recordando-me de quando te lambuzei todo de chantilly.
E da forma como te limpei depois.

Huuum!

É uma pena não ter podido saborear também o recheio.
Se bem que...
...só a cobertura já "mucho me gustou".

Queria poder emoldurar num quadro
a cara que sua família fez
quando descobriu estarmos juntos.
Os narizes torcidos,
os olhares de asco.
Foi muito doloroso, eu sei.
Mas sei também que hoje rimos de tudo isso.
E que não houve nada que não valeu a pena.

Quantas transas em lugares inóspitos!
Quantas "quase-prisões", por atentado violento ao pudor.
Tanto desejo!
Tanto ardor!
Tanto... ...amor.

Tanta vontade de ejacular sorrisos.
E ejacular mais mil vezes, sorrindo, por que não?

Vontade de viver tudo de novo.
Apenas por estar com você.
E por ser todo meu.

Oh, my BFF's!




Sim, eles são meus.
Só meus.
São meus queridos amigos.
São a família que me permitiram cativar.
E que me cativou, pra sempre.

Como imaginar poder viver
Sem os ciúmes de Ketlen?
Sem seu orgulho de pavoa, e sem sua prova diária
de que está sempre ali.
Disposta a empalar mil leões em minha defesa?

Como conceber minha existência sem os cabelos coloridos de Kekéu?
Sem sua risada solta, sua entrega frouxa.
Sua revolta com as injustiças do mundo.
Levantaria quantas bandeiras fossem necessárias pra tê-la sempre comigo.
Mesmo que por causas ignóbeis.

Romário.
Minha eterna diva.
Aquele que me ensinou a bater cabelo.
Mesmo que metaforicamente.
Me mostrou a linha tênue existente entre se dar valor
Ou dar valor a maravilhosa chupada de um boy-delícia, com o perdão da rudeza.
E olha que eu ainda tenho minhas dúvidas quanto a isso...
E como adoro nossa performance de S&M!

Jackie.
Nossa eterna “mãezona”.
Da gaiola das loucas, a mais comedida.
A que sempre preza pra que não soframos demais.
E a que sempre nos irrita, quando insiste em sofrer sozinha.
Há! Quantas histórias pra contar, vividas no Jack’s Motel Motor...

Paulo Júnior.
O mais recente pupilo da trupe.
Sempre disposto a ouvir todas as minhas aventuras
E desventuras amorosas.
Sem se irritar com meus zilhões de detalhes precisos.
(tá bom, as vezes ele se irrita, mas não importa, rs).
Basta que possamos sempre contar com seus sábios conselhos.

E o que dizer da minha esposa?
Bem, bem, não me estranhem.
Devo gostar de meninos até mais do que ela.
Mas andamos tão grudados que já nos casaram sem nem padrinhos. Rs.
Aquela que eu consegui fazer falar. Era caladinha, em outra turma, até que a roubei pra mim.
E que joia consegui surrupiar!
Embora ela me deva dois príncipes encantados.
Sim, sim. Já arrumei vários boys pra ela, e ela nem pra retribuir.
Mas admito estar satisfeito, desde que ela não peça divórcio e arranque todos os meus bens. Né Sílvia?

Franciele, a japonega.
Nossa Nicki Minaj, numa versão três vezes mais sapeca
e safadinha.
E que sempre está pronta a me beliscar.
Pra me fazer enxergar que sempre vale a pena seguir em frente.
E que ela sempre vai estar ali, pra chorar ou pra rir comigo.

Bibi.
Aquela que põe fogo na caixa dágua.
Dá nó em goteira.
E sabe sempre como arrancar uma gaitada insana
da bicha louca aqui.
Ela que nem ouse em me oferecer mais José Cuervos.
Pois sei que vou aceitar, e que não vai prestar.
Que permaneça sempre perto de mim
Trabalhada na elegância e no bom coração.

Bem.
Acho que a família já tá bem grande, né?
E acho também que nunca conseguirei expressar com precisão
o quanto essas pessoinhas me fazem bem.
Tão bem!
Espero que nossos laços não-consanguíneos nunca se rompam.
Amo todos vocês!

Patacaporéu!




Ê, mal fadado coração, que complica tudo!
Seria digno podermos viver sem suas nuances.
Ou conseguindo não maculá-lo com nossas efêmeras ilusões.

Por que às vezes ele distorce gestos de carinho inocente em gestos de devoção?
Por que embaralha nossos sentidos, e cria carícia, de onde só sái atenção?

Despretensiosa.

Carente?
Sim. Sei que o sou.
Não entendo muito de astrologia, mas esse parece ser um mal comum aos cancerianos.

Eu queria nem sequer ter conhecido meu inferno astral.