
Olhar. Porta de entrada para a percepção do mundo de uma maneira ímpar: forma, tamanho, cor, comprimento. Mas, principalmente: sentimento. Num lampejo de olhar se revelam emoções escondidas, guardadas à chave, no mais obscuro recôndito da alma. Nesse aspecto, o olhar é traidor.
Como explicar aquela sensação entorpecente, aquele fritar de neurônios, aquela (desculpem a pieguice) agitação de borboletas no estomago que se seguem, após percebermos visualmente um olhar que chamou a atenção?
O resto do seu corpo consegue esconder, às vezes. Talvez se entregasse, ao sentir o toque do outrem. Talvez seu infame segredo fosse descortinado pelo tato, nessa situação. Mas do olhar, há! Desse você não escapa, em circunstância alguma.
E não são apenas o amor, o carinho, os ditos sentimentos puros, que podem ser revelados, em um olhar de esguelha. Quem nunca se enrubeceu (ou se enfureceu) ao perceber que está sendo literalmente secado por olhares de luxúria, de lascívia? É como se tudo o que há em você, que o diferencia das outras pessoas (geralmente, todo o seu melhor), estivesse sendo sugado por aquele canal visual. E é muito difícil não se deixar intimidar. Talvez não seja à toa que as variações de movimento do globo ocular também sejam levadas em conta, nos testes de detectores de mentiras.
E mesmo outras emoções podem ser reveladas, pela luz dos nossos olhos. Prova disso são as viradas de olhos, as piscadelas, os olhares de inveja, o olhar vítreo, dentre outras. Exatamente por isso, muitas expressões relacionadas ao tema ganharam fama, como: o olho que tudo vê, o olho do furacão, o olho do c... ...Bem. Vocês me entenderam.
Logo, podemos constatar que o olhar é, de certa forma, dantesco. Tanto pode nos ajudar quando precisamos, por exemplo, conquistar alguém (nos levando aos céus), quanto pode nos trair, nos revelando, nos momentos em que queremos parecer invisíveis (nos mostrando a face do mais impiedoso inferno). Basta a nós sabermos como usar dessa arma tão sedutora, e tão letal. E quando se deixar entregar a ela.