sábado, 31 de agosto de 2013

Menina Bela



O cheiro dos lençóis de sua casa.
O barulho oco dos passos no piso de tacos.
O tropeçar enervante nos tacos soltos, daqui e dali.

O barulho irritante do lanchinho da esquina.
As vezes em que mandava ir às compras.
Gouveia, Padaria ou Sacolão.
Se eu soubesse que irias embora, não teria reclamado tanto.

O sorvete de ameixa, ou de limão.
As cantigas italianas.
A história do campante.
Me lembro até hoje de sua voz arrastada, dizendo:
"TE PEGO, TE PICO E TE JOGO NO RIO!"

O sabor de seu quibe cru.
O jilozinho frito.
O bolinho de arroz.
A polenta, o pudim de pão.
Hum!
Receitas que acendem minha saudade.

A voz engraçada, de quando tirava o aparelho auditivo.
"Aaa Luuz!"

Vovó.
Ora por mim, em qualquer tom.
Esteja onde estiver.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ordem no Tribunal! Caso a ser julgado: A Seduzência de Lucélio Azevedo.



Por sua culpa tenho esboçado mais sorrisos do que deveria
ao assistir a comerciais de margarina.
Por sua culpa, volta e meia, minha mãe tem me pegado, cada vez mais, a conversar e a cantar sozinho.
Por sua culpa, tenho ouvido Boyce Avenue com muita frequência.
Por sua culpa, tem me sobrado muito mais paciência.

Por sua culpa meu cérebro tem ficado mais burro, e muito mais safado.
Por sua culpa me esqueci que quem fica mais safado e burro sou eu, e não meu cérebro.
Por sua culpa fui obrigado a me lavar de madrugada, depois de desfrutar, sozinho, de um delicioso orgasmo solitário.
Por sua culpa, tenho levado broncas de meu patrão, por nunca chegar no horário.

Por sua culpa, reaprendi a gozar a vida.
A gozar da vida.
E a como gozar, de diferentes e apetitosas novas maneiras, na etérea vida.

Por sua culpa, tenho me sentido mais viril.
Por sua culpa, não sinto aquele antigo frio, de fazer gelar meu coração.
Por sua culpa, escrevi uma nova canção, chamada "Baila Comigo". Me dá sua mão?

Por sua culpa.
Por sua tão grande culpa,
aprendi a amar você.

E pro seu azar, eu sou o juiz da extrema corte.
E como sentença, te condeno à prisão perpétua.
Encarcerado no ribombar de meu peito.

sábado, 3 de agosto de 2013

Repente



Pra poesia vingar
Você vai ter que rimar
Os tambores a rufar
O jogo vai começar

Não adianta, nem vem
Rimo neném com vintém
Se perguntar pra alguém
Nunca perdi pra ninguém

Se eu tô no mundo da lua
A culpa é toda sua
Se ficaste toda nua
Bem peladona na rua

Desculpa, é piadinha
Não gosto de bacurinha
Gosto da apertadinha
Deliciosa rosquinha

O meu negócio é "homi"
Disso, não morro de fome
Se paro, fico insone
Feito bebê que não come

Mas vamos mudar o papo
Não tenho língua de trapo
A sua boca eu tapo
Feito balaio de gato

Com minha língua matreira
Ensaiei semana inteira
E não me vem com bobeira
Te ganho em qualquer feira

Na terça, quarta ou quinta
E não me venha dar pinta
Se tu não quer que eu minta
Rimo como faço finta

Acho melhor eu parar
Senão você vai chorar
As lágrimas vão rolar
Seu coração machucar

Mas admita, ganhei
Das palavras sou o rei
Não sou modesto, eu sei
Nesse universo me achei

As palavras me fascinam
Me despertam, iluminam
Ainda mais quando rimam
Os jogos nunca terminam

Já não consigo parar
Um maluco vão me achar
Chego a me excitar
Quero gozar em rimar

Porra. Como é difícil controlar meu lápis.