terça-feira, 25 de agosto de 2009

Poema de um ébrio




Precisamos de muito pouco pra sermos felizes.

Nos basta uma esferoferográfica velha
e o bom e velho copo de vinho
pra que o mundo todo se traduza em alegria intensa.

Um gostoso encontro com amigos de muita longa data
e uma folha de papel, com pautas ou sem,
pra que um bebum apaixonado pela vida
faça-se entregar de bom grado ao mundo, em registro.

Mesmo que não o amem
com tanta intensidade quanto há
na força e na dedicação contidas nessas linhas,
a ele basta.

Lhe basta o privilégio de poder amar.
INCONDICIONALMENTE!

Mesmo no escuro.
Ao som de músicas que embalam
a curta vida de um ébrio,
ele se ispira.
Apenas por cogitar a possibilidade
de que seus versos toquem o coração de alguém.

Àqueles que vos ama, dirá:
-Vos amo!
Àqueles que não vos ama, dirá:
-Vos amo, também!

Pois mesmo o sentimento de ódio
está envolto pelo amor incontido,
ganancioso, representado pela inveja.

Agora, bem agora
que a névoa da embriaguez se dissipou,
junto à minha imaginação,
o reconheço.

Esse eterno poeta sou eu,
que me fiz envolto, obscuro, secreto,
justo por não querer me identificar
num mundo em que todos sentem medo de dizer
o quanto amam a vida.

16/07/2009, por José Henrique, não mais tão bêbado assim, numa noite de inverno.

Apenas lágrimas


Lágrimas.
Apenas lágrimas.
Rios de incompreensão.
Nuvens de desejos incontidos.
Apenas lágrimas
de sinceridade e comoção.
Que se dane se o mundo é frio.
Permito-me chorar.
Que se exploda o tal mundo seco.
No lume do pranto me compreendo.
Vá pro inferno o insano machismo.
Lágrimas doces me fazem mais pleno.
Que se evapore a frieza e a apatia.
Lágrimas expulsam todo o seu veneno.

O Sistema do Quadradismo Perfeito




Entre o pranto e o escárnio.

Entre o riso e o descontrole.
Desenha-se minha fragilidade.
Fazendo-me temer o amanhã
desenhado por incompreensivos insanos.

Palavras aqui sinceramente eternizadas
para exterminar o medo
da eterna sensação de solidão.

Bestas imundas são aquelas
que não sabem lidar com a diferença.
Que choram e gemem por um câncer
e riem de um T.O.C.

Bestas.
Daquelas do inferno, mesmo.
Do doloroso e impiedoso inferno
do sistema do quadradismo perfeito.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Entregue




Numa idéia vazia me perco.
Num pensamento reticente de inquietude,
de incompletude, o revés do amor.

Numa noite sombria me deito.
Com navalhas cortantes de fúria
servindo de travesseiro.
E o desespero como cobertor.

E não há meio de não me prender.
De não me enclausurar por detrás dessas grades limitadoras
que norteiam minha existência com o fracasso.
O doce pensamento de fracasso,
que no meu íntimo deixa chagas destruidoras.

E o mais impressionante
é que, no meu masoquismo doentio,
permito-me sofrer.
Deixando-me levar
com uma apatia demente.

Parece que, de bom grado
Decido parar de lutar.
Mesmo sabendo que assim
alieno meu inconsciente.

O prólogo de um fim




A mim já basta!

Chega de promessas de amor!
Chega de deixar-me enganar por palavras doces
proferidas em momentos de ânimo patético!

Sabemos muito bem que nada é assim tão fácil!
E eu, de tão imbecil que fui,
imbecil não serei mais.
Cansei de entregar-me ao vazio.
De amar o "não-sentimento".
De esperar a alteridade que nunca existiu,
a não ser de parte minha.

Guardemos nossas lamúrias
em nossas caixas-de-Pandora,
que dessa vez, lhe asseguro,
não haverão de ser abertas, jamais!

Que nos entupamos de brigadeiro
e nos esqueçamos.
Por todo o restante do sempre
e até que alcancemos o nunca.

domingo, 9 de agosto de 2009

Ora, vá! Explodam-se todos!!




Falam-me como se eu tivesse culpa.

Como se quizesse eu vê-los sofrer.

Mal sabem eles que toda a ira,
em seu sofrimento insano de dor e gozo
se encontra, em sua plenitude, dentro de mim.

E não me bastam os pedidos de calma.
E não me alcança o comedimento.
E menos ainda, a compreensão.

insano mundo esse nosso,
que só enxerga o perfeito
numa imunda fôrma padrão.

Me deixe a minguar, no cosmos

Parece-me que, enfim, percebi
o quão belo me parece o universo.

Tudo o que posso ver.
Tudo o que posso tocar.
Tudo o que posso cheirar.
Tudo o que posso lamber.
Tudo o que posso ouvir.

Tudo em overdose.
Tudo magnânimo!

Beleza desenhando-se em traços faciais.
Momentos jocosos, em que perco-me em patetices.

E tudo é tão lindo!
Tão, tão lindo!
Que deixo-me levar pela imensidão do cosmos.

E desse labirinto não me dê a saída.

Quero morrer perdido.